Últimos Artigos
recent

Sobre a movimentação dos sapateiros nesta semana

Escrevi no dia 30, nesta segunda, que houve uma movimentação por parte de alguns funcionários de empresas de calçados em Birigui para contestar o discídio de 7,5%.  Hoje ocorreu uma das reuniões entre os representantes de uma empresa, os representantes dos setores e o sindicato da categoria que intermediou. Vou sair do campo da especulação e partir para minha análise, espero que acompanhem o raciocínio até o final, pois sei que muitos divergem desta opinião. Adiante então.

Segundo fontes relacionadas aos sapateiros, e aqui devo ressaltar que as fontes seriam uma operadora de uma das empresas com a confirmação de outro funcionário da mesma empresa, mas de setor diferente, os sapateiros pleiteavam um aumento da ordem de 12,5% e ouviram a contrapartida de que a categoria em Birigui teve o segundo melhor aumento do estado de São Paulo, ficando atrás apenas de Jaú em pouco mais de um décimo. Jaú tem um produto com maior valor agregado. Desviando do mérito do fato de ter havido ou não paralisação, arrisco desde já que não haverá fruto algum das negociações. As razões são muito simples e começam pelo simples fato de que, de maneira alguma se conseguirá qualquer acordo relevante partindo de negociações isoladas com o sindicato mediando reuniões em fábrica a fábrica como se configurou. Mas os motivos mais sérios elenco-os a seguir:

O Produto: A confecção de calçados está entre os processos de nível mais complexo, justamente por seu aspecto quase que integralmente artesanal. Seu custo de fabricação, proporcionalmente, é elevado demais sendo necessária a produção em larga escala para se configurar o ponto de equilíbrio com margem de lucro. Na verdade, em média, as fábricas consideram uma margem de 10% de lucro, o que em uma situação normal de relação de fabricante e comércio teria o valor final do produto acrescido de mais 90%. Vou poupar o leitor de terminologia técnica específica como Mark-up e outros. Uma comparação bem "asnalógica" para ilustrar seria esta: numa indústria automobilística, quantos automóveis seriam necessários para se pagar um funcionário da mesma; numa indústria de calçados, quantos pares seriam necessários para pagar o mesmo funcionário com os devidos encargos.

A Gestão: um gravíssimo problema de nossa região que está longe de ser solucionado porque se estuda muito administração de empresas, engenharia de produção, cases, técnicas importadas e procedimentos desconectados de nossa realidade local, mas o indivíduo pouco avança além do horizonte provinciano de nossa região. A tudo isso mistura-se ainda uma série de modelos e decisões GA (Goela Abaixo). Basicamente somos uma cidade empreendedora por natureza e a prova disso é que quase todos os empresários foram sapateiros ou estiveram envolvidos com o processo de alguma forma. O que os atrapalha e limita sua visão em muito. Quase 40% do faturamento de uma empresa (normal) de calçados é perdido durante o processo. Isto pude avaliar durante 17 anos dedicados ao ramo. As falhas visíveis são medidas e analisadas até a exaustão, sem que com isso as empresas se tornem mais eficazes. Os problemas são detectados, os departamentos se fecham em feudos administrativos e se esquecem de que uns são fornecedores dos outros internamente. Nem vou me estender neste ponto! Ocorre que, fora o retrabalho e o desperdício que são atacados sistematicamente, outras falhas menos óbvias tomam mais das empresas do que os 1,5% a 4,5% costumeiramente adicionados ao custo do produto. Sem contar que, para alguns empresários, se está no custo e o consumidor final está absorvendo, então não há problema. Gravíssimo erro! É assim que perdemos espaço para os concorrentes e perdemos mercado. Mas, meu objetivo não é dar aula de gestão, apenas apontar que na falta desta, perde-se uma fatia preciosa do faturamento que poderia ser maior e representar uma compensação melhor nos rendimentos dos operários. Não vejo uma só empresa realmente eficaz em Birigui!

A Exploração pela Mais Valia: Essa é ótima!! Meu amigo comunista adora esta expressão!! Quando um empreendedor passa a ter barulho de charrete na cabeça, decide abrir uma empresa e assumir todos os riscos e responsabilidades que compõem a sua atitude. Encara um banco (quanto não possui o capital necessário), se aventura em financiamentos, coloca o c... como garantia e assina o compromisso social de que, se der merda, toda culpa é sua e só a ele caberá a responsabilidade de arcar com todos os encargos do fracasso. Por isso tem muito sacana em nossa cidade que dá o tombo e continua por aí. Não é regra geral, graças a Deus! O empresário, esse maluco que botou o fiofó no prego, investe em equipamentos para que, em muitos casos, um sem noção venha a operá-lo sem o menor compromisso. Alguns colam até adesivos ou rabiscam seu nome nas máquinas ou operam sem cuidados para que as mesmas venham a sofrer reparos intencionalmente. A relação entre empregado e empregador nunca foi ou será fácil. A compreensão de ambos está ancorada no paradigma de cada um. Metido a intelectual que nunca foi um ou outro discorrer sobre o assunto que é dose! No sistema que analiso, a fabricação de calçados, trata-se apenas de uma forma de alavancagem. Nada de errado nisso! Se o indivíduo se acha explorado estamos num mercado que permite que o mesmo também enlouqueça e se arrisque a ser um empresário. Poucos conseguem e menos ainda permanecem porque o funcionamento perfeito desta engrenagem depende de uma coisinha muito simples: pessoas!

A Mão de Obra: É das mais mal pagas, é verdade, porém, contudo, entretanto, é das que menos se qualifica adicionando muito pouco valor agregado a sua força de trabalho como produto a ser consumido pelas empresas. E não esperem muito fazendo um cursinho de pesponto, ou corte, ou de montador no SENAI! Quanto mais cresce a oferta de profissionais, com a demanda pelos mesmos crescendo em proporção menor, mais barata será a força de trabalho. A decadência na oferta de mão de obra já é evidente, pois, quem tem juízo, presta-se o favor de investir em conhecimento para conquistar melhores oportunidades de trabalho.

A Expectativa: O setor teve um momento de grande prosperidade no município em virtude de se produzir o efeito real da alavancagem sobre os sapateiros, mas está saturado e refém do efeito "modinha". Os custos para o desenvolvimento de uma nova linha de produtos a serem oferecidos ao mercado são escandalosos e seu ciclo, diferente dos calçados adultos, não chega a seis meses! Em alguns casos, ainda há empresários que exigem a renovação de seu catálogo a cada quatro meses. Uma insanidade que os representantes comerciais atribuem ao mercado que está sempre voraz por novidades. Falem isso para a Alpargatas que mantem sua Havaianas até hoje. Observem quantas alterações (e de quanto em quanto tempo) o Olympikus ou o NIKE têm por ano. Mudam no máximo a matéria prima, as cores e os adornos, mas os moldes originais duram muitas estações. Outra questão é que o funcionário, mais do que salário, precisa de uma perspectiva de crescimento pessoal. A maioria esmagadora de nossos empresários sequer pensa em investir em um plano de carreira para seus "colaboradores" (detesto o emprego desta palavra, nunca vi ninguém colaborando com seu contracheque para a empresa), ou um plano de benefícios reais, não a enganação absurda dos planos odontológicos, médicos, etc, que são acrescidos na coluna de descontos destes.

A Cidade: Perde muito com a renda baixa. Seu comércio (também por culpa dos comerciantes e do órgão que os representa) fica enfraquecido e vulnerável a quaisquer brisas da economia global. É verdade que sua mão de obra é menos qualificada ainda. Não é de hoje que ouço reclamações de que os biriguienses não possuem renda para gastar na cidade e por isso pouco se inova. Tá... então porque vejo tanta gente gastando, o que não tem coragem de gastar em Birigui, em cidades como Araçatuba e Penápolis? Porque essas cidades são mais atrativas para a curta renda do trabalhador biriguiense? Não é preço, me desculpem! Já comparei e ganhamos de longe em muitos artigos. De contrapartida temos apenas a compra de calçados por parte dos moradores destas cidades. Também não vou me alongar neste ponto porque sei que algum anônimo puxará minha orelha.

A China: Em 1998, quando afirmei que o oriente ameaçaria a produção de calçados no Brasil, fui caçoado. Anos adiante, vi os empresários biriguienses unidos para pedir barreiras do governo contra o avanço dos chineses. Na ocasião, não ouvi falar em melhorar a gestão, buscar alternativas para competir e, muito menos, investir de maneira pesada na qualificação dos operadores. Ainda repetimos o erro e seguimos culpando a carga tributária, a falta de incentivos, a mão de obra especializada escassa e nunca a visão medieval de nossos celebradíssimos empresários locais. Alguns desses empresários se adiantaram e encontraram formas de sobreviver apesar dos chineses e, em casos específicos, até em conjunto com eles.

A Crise Européia: A famosa "marolinha" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda fará mais vítimas. O Mercosul, com a louca Cristina Kirchner, o insano Hugo Chavez, e o defensor dos maconheiros uruguaios, não salvará as exportações e o mercado interno sofrerá transformações nos próximos anos. Isso não é uma coisa ruim para o sapato biriguiense, mas cidades com apenas um segmento com forte presença na economia local correm sério risco de trauma geral. Comparem as empresas biriguienses que se mantinham com o faturamento dependente em 70% ou 80% por parte de apenas um cliente. Quando este cliente trocou de fornecedor, estas empresas faliram. A C&A já deu muita dor de cabeça para empresas, cuja prosperidade caminhava velozmente.

Enfim, este texto não encerra o assunto que exigiria muitos outros artigos, mas como sabem, isto é um blog e nem adianta ficar estendendo conversa. Como sei que alguém retomará o assunto, esperarei para concluirmos. Agora tenho de retornar as minhas tarefas. Boa noite a todos.

7 comentários:

  1. Agora vc falou besteira! Se você é tão fodão e não vê uma só empresa que preste em Birigui, porque não vaza pra outra cidade?

    ResponderExcluir
  2. Dá uma voltinha, pede emprestado um dicionário para algum amigo, porque é coisa que não deve fazer parte do seu acervo e pesquisa o significado da palavra "eficácia". Eu aguardo...

    ResponderExcluir
  3. ele poderia ter ído dormir sem essa!!!!

    ResponderExcluir
  4. coice kkkkkkk, viu asno vc ta encomodando, ate mandar vc vazar eles estao

    ResponderExcluir
  5. pega o dicionário você também anônimo das 08h13.

    ResponderExcluir
  6. Jão das Couves02 agosto, 2012 23:02

    Asno, deve ser um dos Iluminnatis, cuidado!!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  7. Caramba! Fui descoberto de novo... vou ter de mudar de cidade!

    ResponderExcluir

1 - Qualquer pessoa pode comentar no Blog “Um Asno”, desde que identifique-se com nome e e-mail.
a) Em hipótese alguma serão aceitos comentários anônimos.
b) Não me oponho quanto à reprodução do conteúdo, mas, por uma questão de responsabilidade quanto ao que escrevo, faço questão que a fonte seja citada.

2— Não serão aceitos no Blog “Um Asno” os comentários que:
1. Configurem qualquer tipo de crime de acordo com as leis do país;
2. Forem escritos em caixa alta (letras maiúsculas);
3. Estejam repetidos na mesma ou em notas diferentes;
4. Contenham insultos, agressões, ofensas e baixarias;
5. Reproduzam na íntegra notícias divulgadas em outros meios de comunicação;
6. Contenham links de qualquer espécie fora do contexto do artigo comentado;
7. Contenham qualquer tipo de material publicitário ou de merchandising, pessoal ou em benefício de terceiros.

Tecnologia do Blogger.