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O custo para um partido que deseja se eternizar no poder

Partido dos Trabalhadores - Um Asno
A vantagem de não ter o c... alugado por nenhuma legenda partidária é que me dá liberdade de escrever o que penso sem ter medo de deixar de receber apoio financeiro para meu ofício. Já disse que escrevo por que gosto e não para ganhar destaque ou dinheiro, o que é uma ilusão ridícula, já que me oponho justamente ao sistema que financia o tipo de blog que escreve o que não concordo. Quem me conhece sabe o quanto critiquei o governo de Fernando Henrique, sobretudo, pelo seu segundo mandato quando ficou evidente que estava mais comprometido com a sucessão do cargo do que com a materialização definitiva de seu programa econômico. Ah, claro! Eu fui favorável ao plano Real (quase apanhei dos meus companheiros) e a política econômica proposta pela equipe de FHC. Fui admirador de Pedro Malan, poucos vezes mencionado por seu grande serviço a nação, mas muito criticado. Houve erros sim, mas houveram méritos até no governo de Collor de Melo.

Em meus anos "rebeldes", ainda mergulhado na fantasia da paixão partidária, me alinhei ao discurso do Partido dos Trabalhadores, não porque representava os trabalhadores (a maioria nem gostava do conceito de trabalho e vivia às custas dos trabalhadores em sindicatos que brigavam muito, mas para o próprio sustento!), mas porque se apresentava como um grupo destemido e imaculado que não hesitava em exigir, corajosamente, penas severas e até cadeia para os corruptos. Era um discurso bem diferente do atual. Ninguém queria saber o que a justiça dizia sobre esse ou aquele caso. Para nós era evidente que se tratavam de larápios e precisavam ser punidos, ou, no mínimo, atacados violentamente por nossas palavras de ordem. Simplesmente por que representávamos a oposição e todo o resto o mal manifestado nas instituições democráticas!

Éramos intransigentes com a ética e a moralidade! Não aceitávamos a existência de "ladrões" (era assim que os chamávamos), como José Sarney, Fernando Collor e Paulo Maluf. Nosso mantra era sempre: "lugar de corrupto é na cadeia". A Imprensa e o Ministério Público eram nossos aliados porque concentravam esforços para acabar com a impunidade de criminosos de colarinho branco no país. Meus inspiradores: Hélio Bicudo, Ferreira Gullar, Cristovam Buarque, Plínio de Arruda Sampaio e Chico de Oliveira, deram espaço a um grupo que desejava se perpetuar no poder manipulando todas as instituições democráticas.

Minha opinião começou a mudar depois que vi os discursos se adaptarem espantosamente em acordo com a conveniência. Até então, as ações irresponsáveis do partido eram por mim compreendidas como justa resposta aos "reacionários nojentos", como hoje sou acusado. O discurso, na realidade, não mudou! Mesmo depois de doze anos no poder, o mal ainda é representado pelos outros, nunca se manifesta entre os aliados. Fui favorável às privatizações (o que me rendeu dissabores com meus amigos militantes), e ainda sou! Minhas razões ficarão evidentes ao longo do texto.

A criação das agências reguladoras foi inspirada nas melhores práticas de modernização da administração pública. Porém, as agências se tornaram o principal alvo do governo petista, assim que tomou posse em 2003, justamente por sua relação direta com o programa de privatização tucana. Elas foram criadas, originalmente, como organismos independentes aos governos para, sem qualquer tipo de interferência, fiscalizar a prestação de serviços de concessionários. Mais do que óbvio, justamente porque em muitos casos houve transferência de empresas públicas para o setor privado e concessão de exploração de serviços a empresas particulares, necessitava ainda mais de um mecanismo de fiscalização.


As pessoas se aborrecem com intelectuais e Lula, com seus discursos improvisados, falava na linguagem que o povo brasileiro queria ouvir (a sua própria linguagem). Lula sempre soube como e de que forma iludir, recorrendo a um palavreado popular, gírias regionais e até se utilizava dos seus erros de português para encurtar a distancia entre ele e a população. Foi fácil trabalhar sua imagem de operário que conquistou o mais alto cargo no país. Era um sonho realizado de cada cidadão e, portanto, esfregado como possível a qualquer um. Foi assim que Lula ganhou o povo brasileiro. Lula não foi eleito apenas pelos mais simples, mas por aqueles que também sonhavam com um Brasil mais justo, que queriam empregos, escola para os filhos, atendimento à saúde para família, segurança, etc. Foi a primeira vez (e única) que também sonhei. Dei meu voto ao operário que deveria conhecer profundamente os anseios dos mais simples, não ao oportunista dissimulado que sabia apenas demolir a criação do outro governo, destacar as falhas deste, omitir as falhas do seu e exagerar nas suas conquistas.


O que fez, o governo de Lula com sua bandeira cega contra as privatizações? Exterminou a independência das agências, tratando-as como autarquias menores de ministérios e colocando-as à disposição do jogo político fisiológico de troca de cargos e verbas por apoio dos parlamentares. A esta degradação das agências se deve o mais recente escândalo deflagrado em torno da chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de NoronhaSe a ANA (Agência de Águas), e Anac (Agência de Aviação Civil) continuassem a ser, de fato, independentes e dirigidas de forma profissional, Rosemary Noronha, não teria montado um esquema de tráfico remunerado de influência a partir delas. É lógico que o resultado da incompetência de gestão do governo não depende de qual partido está no comando. Poderia ser qualquer um, inclusive o PSDB. Chamo a atenção, sim, é para o discurso!

Quando tive minha experiência como empresário, aprendi que dependemos do lucro e da excelência na administração para sobreviver no livre mercado. É questão de vida ou morte manter a elevada produtividade de nossa empresa e atender bem à demanda de nossos clientes para prosperarmos no negócio. Neste caso, somos impelidos naturalmente a estimular os bons funcionários e a punir os incompetentes. O negócio é inverso nas empresas estatais... Neste caso, os proprietários da empresa (o povo), não possuem qualquer influência em sua gestão que fica sob o controle de políticos e burocratas com interesses muito distante dos nossos. As características principais de uma estatal são: a troca de favores políticos para a “governabilidade”, o uso da empresa como cabide de empregos para apaniguados ou instrumento de política nacionalista, o descaso com o dinheiro público, a conivência com o destrato com os usuários dos serviços prestados, a incompetência e falta de austeridade com os procedimentos fiscalizatórios.

Reflitam! Onde está a maior precariedade em nosso país? Justamente nos serviços prestados por setores que estão sob o domínio do estado. Portos e aeroportos, os Correios, os transportes públicos, as escolas e os hospitais administrados pelo governo, o Detran, os presídios, enfim, basta o Estado intervir muito para estragar qualquer setor da economia. Onde ocorrem com maior frequência os escândalos? Novamente, vemos as empresas do estado envolvidas. Mesmo quando há empresas privadas agindo como corruptoras, é nas estatais que se consegue legitimar os atos.


Pouca gente se recorda de como as estatais privatizadas pelo governo FHC eram realmente eficazes! Sua principal eficácia estava associada a enorme remuneração de dirigentes apadrinhados sem nenhuma vocação para o exercício de suas funções a frente das empresas. Não era raro o governo ter de cobrir gastos da empresa ao final de um exercício, mesmo ela tendo lucro no ano. Porque? A maior parte das despesas estava alocada justamente na mão de obra! Mas não era qualquer mão de obra... Uma pequena fração que ocupava altos cargos é que era muito bem remunerada.

É arrogante e fantasioso um governo acreditar que pode fazer melhor do que a iniciativa privada. É o caso do governo atual. Nos últimos doze anos uma doutrina prega e o povo reverbera que o governo é realmente capaz de administrar os importantes setores de nossa economia conduzindo o país a um modelo “desenvolvimentista” com uma incrível quantidade de intervenções arbitrárias. Atitude que causa prejuízo a empresas até eficazes, como é o caso da Petrobras que virou símbolo de incompetência, com crescimento pífio da produção e enorme destruição de valor para seus milhões de acionistas. Só no Brasil mesmo para cervejaria ter mais valor do que uma petrolífera, como é o caso da Ambev que superou a Petrobras!

Não só isso... Essas mesmas intervenções poderão produzir uma terrível bolha imobiliária verdadeiramente made in Brazil, muito parecida com a que expôs os Estados Unidos e os frágeis países do velho mundo. Bancos são empresas. Bancos precisam ter lucros! Ao transformar os bancos públicos em instrumentos populistas para oferecer crédito barato com uma taxa de crescimento descontrolado (só a Caixa aumentou sua carteira em 45% nos últimos 12 meses), usando como argumento a vaidade de forçar os outros bancos a serem mais justos, o governo na realidade, abre caminho para uma crise financeira porque não é capaz de controlar a voracidade da população e, tampouco, sua ressaca inadimplente.


As intervenções do governo vão além e causam mais estragos. O BNDES virou um banco especializado em transferência de recursos públicos para grandes empresas próximas ao governo. O bilionário Eike Batista, recebeu bilhões em empréstimos subsidiados, enquanto muitos outros empresários mendigam outros recursos a taxas muito mais altas e daninhas ao seu negócio. A Eletrobras já perdeu cerca de 70% de seu valor de mercado apenas este ano porque o governo resolveu usar a estatal como centro de custo para sua meta de reduzir as tarifas de eletricidade na marra, em vez de cortar os impostos (que correspondem a 45% da tarifa final). Obviamente faltarão recursos para novos investimentos no setor!

Estruturalmente, o governo jamais será um bom empresário. Sobretudo, um governo que rege-se por uma batuta incoerente de um grupo irresponsável que, em nome da governabilidade alia-se a adversários que tachava de bandidos, que adota o fisiologismo como prática de governo e que depois de mais de duas décadas pregando nas ruas o combate à corrupção e a punição dos corruptos, que recentemente também adaptou seu discurso para defender a tese de que cadeia não é lugar para banqueiros, empresários bem-sucedidos e políticos preeminentes. Um partido que sempre afirmou-se como do povo, agora defende a ideia de que prisão deve ser reservada somente ao próprio povo, ao ladrão de galinha, ao pé-rapado. Pelo menos é assim que pensam os amigos dos condenados, José Antônio Dias Toffoli e o ministro da Justiça, e petista, José Eduardo Cardozo, que em outra ocasião, referindo-se ao Mensalão, chegou a afirmar que "O partido confundiu-se com o governo, tornou-se aparelho do Estado e acreditou que os fins justificavam os meios. Agora, só há salvação se os responsáveis por tudo isso forem punidos." C'est la vie.


Recentemente, o PT divulgou uma nota criticando o rigor das penas impostas aos réus e atacando o Supremo, que teria se curvado à pressão da mídia, ignorado aspectos técnicos e realizado um julgamento político a fim de criminalizar o partido. Eis o partido que conquistou as massas com seu discurso contra a corrupção e a impunidade!

Um comentário:

  1. O bom de seus textos são essa neutralidade e essa sinceridade. Ao contrário de muitos responsáveis por blogs jornalísticos da minha região, que pagam pau para os políticos da situação local, postando postagens com propagandas para seus partidos. Tudo bem que cada um publica o que quer no seu blog, mas esses caras passam dos limites.

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