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Yoani Sánchez é recebida em Recife com protesto

Yoani Sanchéz - Um Asno
Nunca escrevi sobre a blogueira cubana Yoani Sánchez, mas há algum tempo acompanho sua história e simpatizo com sua luta. Não só pela aversão que tenho pelo tratamento dispensado pela ditadura cubana com relação a liberdade de expressão, mas também pela sua coragem de se expor a todo tipo de sujeira que um governo tirano é capaz de fazer.  Yoani chegou ao Brasil por volta da 0h30 em Recife e foi recepcionada com um protesto que reuniu cerca de 20 pessoas. No caminho, os manifestantes leram uma carta aberta na qual diziam que o blog dela é um meio de desinformação e que faz uma campanha anti-Cuba. Eles também jogaram dólares falsos na direção da blogueira. Para Yoani o protesto não foi aborrecimento e ainda afirmou que gostaria muito que em seu país as pessoas pudessem fazer o mesmo. "Foi um banho de democracia e pluralidade, estou muito feliz e queria que em meu país pudéssemos expressar opiniões e propostas diferentes com esta liberdade", disse.
Yoani permanecerá no Brasil por uma semana. Divulgará o livro ‘De Cuba, com Carinho’ –uma coletânea de seus textos sobre a rotina do povo cubano sob a ditadura dos irmãos Castro. Haverá tempo suficiente para meu país me constranger com ataques e desqualificações a esta pessoa extraordinária que sofrerá agressões piores do que as sofridas em seu país de origem. Apesar de estar a 5 mil quilômetros de Cuba ela não estará livre dos tentáculos do regime autoritário. Para sua permanência no Brasil, o governo cubano escalou um grupo de agentes para vigiá-la e recrutou outro com a missão de desqualificá-la a partir de um patético dossiê que foi elaborado pelo governo cubano, mas será executado com o conhecimento e o apoio do PT, de militantes do partido e de pelo menos um funcionário da Presidência da República, o assessor direto do ministro Gilberto Carvalho, Ricardo Augusto Poppi Martins.
No dia 6 de fevereiro, o embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, reuniu um grupo de militantes do PT e do PC do B na embaixada do seu país, em Brasília, para passar um dossiê desqualificando Yoani Sánches, acusada de ser “uma mercenária, financiada pelo governo dos Estados Unidos para trabalhar contra a Revolução Cubana, contra o povo, contra os trabalhadores”. Cada um dos convidados recebeu um disquete contendo o material e uma recomendação: o dossiê tinha de circular na Internet, mas sem divulgar a origem das informações. É ainda esclarecedor, ainda, que a vergonhosa reunião tenha ocorrido apenas um dia antes de o embaixador da Venezuela no Brasil, Maxililien Sánchez, ter participado de um ato promovido por José Dirceu contra o Poder Judiciário brasileiro e as oposições. A coisa é bem mais grave do que parece.
A mentira que o dossiê conta já é tratada como fato e alguns valentes já se posicionam nas redes. O governo petista tem pelo menos 5 mil blogs "progressistas" a disposição para multiplicar a mentira do tal dossiê e ainda uma centena de jornalistas para emprestar veracidade ao fato. Duvido que alguns dos jovens guerrilheiros, pós guerrilha, que protestaram contra Yoani tiveram ao menos a curiosidade de ler o que ela escreveu sobre a vida dos cubanos na ilha. Duvido ainda mais que qualquer um deles tenha a mínima coragem de passar o resto de suas vidas sob aquele regime. Nem os políticos e intelectuais que tanto defendem aquele regime têm coragem de viver lá!
Transcrevo abaixo a entrevista concedida por Yoani, aos colunistas da Tribuna Feirense, César Oliveira e Rafael Velame.
Pergunta - Recentemente a presidente do Brasil disse que daria visto para você ir ao Brasil. Você acha que esta decisão pode ajudá-la a conseguir o visto ou atrapalha? 
Yoani Sánchez - Eu penso que toda pessoa por menor cidadão que seja, um funcionário ou o político mais famoso, qualquer um, poderia ajudar, com o apoio nas redes sociais, uma frase, um tuíte. Todo mundo pode. Porque é uma injustiça. Meus antecedentes criminais são limpos. Não estou sendo julgada em um tribunal, nem tampouco tenho segredos de estado.
Como você lida com as acusações de que é financiada por inimigos do regime?
YS - É natural que me acusem, é a contra-informação. Eu vivo minha realidade, eu vivo como um cubano. Eu não poderia falar de algo que não fosse a minha verdade.
Você não acha humilhante, destrutivo para a alma do cubano, haver duas moedas, um peso cubano e o CUC? 
YS - É totalmente humilhante. Essa é uma esquizofrenia econômica, uma dualidade monetária, uma esquizofrenia entre a moeda que a pessoa recebe como salário e a moeda de que necessita para sobreviver. Esta moeda CUC, popularmente chamado chalito, e com o nome oficial de “peso conversível”, é na realidade um fantasma do dólar. Um dólar mais caro. O peso cubano só funciona para o transporte público, os cinemas, comprar o jornal Grama e produtos no mercado racionado. Pode-se usar o peso cubano como moeda nacional para comprar produtos agrícolas no mercado livre, mas a um preço que não tem nenhuma relação com o salário. A outra parte da economia é em peso conversível.
Esta economia parece maior que a oficial?
YS - Sim, a economia subterrânea, invisível, é mais forte, mais viva. Por exemplo, eu li que alguns países da América Latina, como México, Uruguai, Cuba, creio que Venezuela também, foram declarados como “países que haviam erradicado a fome”. Mas eu pensei imediatamente: “Como? Como cada família cubana consegue por um prato de comida na mesa?” Ela põe de forma ilegal. Não há gente morrendo de fome na rua por quê? Porque o sistema funciona pela ilegalidade, o roubo de recursos, o desvio de recursos do estado, a remessa de estrangeiros, a prostituição. Então, existe uma série de elementos não legais, que somados sustentam a alimentação da população.
Diante destas condições não há protesto? 
YS - Lamentavelmente se perdeu a cultura cívica do protesto. Eu gostaria que meu país tivesse um sindicato forte que protestasse, mas em Cuba faz dois anos que o sindicato principal, mais importante e único autorizado no país, anunciou aos trabalhadores que ia a começar um processo de despedi-los. Imagina, o Sindicato anuncia que vai despedir? É um absurdo e os trabalhadores não protestaram.
Agora minha esperança qual é? É esse mesmo cubano que está aqui, calado, que vai trabalhar como neurocirurgião, de bicicleta, porque não tem um carro, que recebe um salário de menos de vinte dólares por mês, que tem que aplaudir os discursos políticos, calado. Esse mesmo cubano toma um avião e vai para o Rio de Janeiro ou Bahia, ou sei lá em Brasília. Três meses depois está protestando no trabalho. O patrão tem que afastá-lo, ele já se sente um homem demitido. Não é um problema genético. Não temos um dano genético. A conjuntura, o cenário, é que é um problema. Mas há algo no hipotálamo, de rebeldia, para ser despertado.
O comunismo tentou derrotar o que é inderrotável que é o sentimento, pois ele pode ser limitado, reprimido, uniformizado, mas não derrotado. Esta foi a derrota do comunismo?
YS - Isto e também o desejo revolucionário próprio de cada um. Por exemplo durante muitos anos em Cuba as pessoas não tinham um motivo para trabalhar mais e melhor. Para que? Não iam viver melhor, ter uma casa maior, um carro novo. Então, por que trabalhar mais e melhor? As pessoas ficaram no conformismo e também era uma forma de esperar subsídio. Há que romper com tudo isso.
Tem esperanças de que o fim de Fidel ou desperte essa rebeldia que você falou?
YS - Bem, em 31 de julho de 2006, o dia em que se anunciou a doença de Fidel Castro, neste momento se você me tivesse feito essa pergunta , o 31 de julho pela tarde, eu te responderia que tudo mudaria com a morte de Fidel Castro. Fidel Castro não morreu, ficou doente e foi pouco a pouco se distanciando da cena pública. Agora, sua morte não teria significado político como há 6 anos.
Sim, mas Fidel tinha uma repercussão mundial, uma liderança mundial reconhecida. Raul não tem esta representação, esta importância, esta história. Isto não facilitaria a mudança? 
YS - Fidel Castro tinha um poder histórico, um carisma pessoal em uma personalidade extrovertida, muito extrovertida, que podia opinar de agricultura, filosofia, cozinha doméstica e determinar tudo. Prefiro que o governante do meu país seja um bom administrador a um homem carismático. Normalmente não são bons administradores. Raul Castro é diferente. Essa troca de homem carismático, todo poderoso, onipresente, por um líder mais discreto, não me parece má. Me parece mau que esta troca não tenha sido por decisão popular, mas por via genealógica e sanguínea. Por que Raul? Porque tem aí um clã familiar. Ao final é tudo mentira. Não tem melhoria. É tudo uma utopia. Há um grupo familiar no poder. É muito decepcionante.
Você não acha que a saída de Fidel, pelo nome que tem, libertaria um pouco a ousadia?
YS - É possível, mas eu penso que agora a pressão fundamental que há sobre os ombros de Raul Castro para acelerar o processo de mudança é sua própria vida. Seu tempo está passando, e do seu irmão já passou. É uma questão de data, é uma questão de dizer que dia é. Raul Castro é um homem octagenário, qualquer dia podemos acordar com a mesma notícia de 31 de julho de 2006. Seu tempo está passando e não há um sucessor. Como dizem por aqui, não há mal que dure cem anos, nem corpo que lhe resista.
Alguma notícia do estado real de Fidel?
YS - Não, isso é secretíssimo também. E eu tenho 37 anos e escutei em minha vida umas 300 vezes a notícia da morte de Fidel Castro. Sou muito cética. Eu, anos atrás, já o enviei ao passado. Há uma canção muito linda que diz: “hoje vais entrar em meu passado, no passado da minha vida”. Fidel Castro pertence ao passado da minha vida, no meu projeto de vida trabalho como se ele já não existisse.
Qual foi o fato que fez com que seu coração mudasse? 
YS - Eu era uma doutrinada, eu era um produto correto do sistema. Em um momento, isso acabou. Cheguei à idade de 15 anos. Meu pai trabalhava em um trem, quando soube da crise econômica, a ausência de combustível. Minha mãe trabalhava em táxi de produção. Não havia combustível, não havia carros. Minha família caiu de imediato em um abismo econômico muito forte. Meu pai acreditava, mas logo lhe ocorreu que toda sua juventude, todos seus anos de trabalho, abnegação, trabalho voluntário e congregações militares, não servia para alimentar seus filhos. Isso foi um golpe muito duro em minha família. Cresci abrindo meus olhos ao mundo ideológico e fazendo perguntas.
Já havia caído o muro de Berlim, a União Soviética se desmembrava. Era muito difícil seguir acreditando em algo. Depois encontrei meu esposo Reinaldo Escobar, jornalista, excelente em sua profissão. Trabalhava no Diário Oficial e nos anos da Perestroika e Glasnost [quando o presidente soviético Mikhail Gorbachev fez a abertura política e econômica que culminou no fim do comunismo no Leste europeu], ele acreditou que pudéssemos viver em um país livre, crítico e real. O resultado foi que o expulsaram. Nunca mais lhe permitiram exercer sua profissão. Teve que sobreviver como mecânico de elevador. Neste momento nos conhecemos. Ele vivia um desengano, vivia revoltado. O desengano dele era de adulto e o meu era de adolescente. Isso completou muitas coisas. Então apareceu em minha vida um elemento importante que foi a tecnologia, a internet.
Eu me graduei em Filologia Hispânica. Sempre gostei muito de ler, a leitura foi muito importante em meu curso, que me permitiu ler além das fronteiras, os livros proibidos. Reinaldo Arena, Cabrera Infante, Solo Valdez. Depois me especializei em letras e tecnologia. Foi um processo, mas a pergunta, como um lampejo, a faísca principal, era: Por que o país onde vivo não se parece com aquele exemplo de vida? Cadê a Cuba que me prometeram? Por que tenho que calar? Eles não cumpriram o pacto social, por que eu tenho que cumpri-lo?
Em um povo tão educado, essa pergunta não deveria ser feita por um número maior de pessoas? 
YS - Ela é maciça. Mas cada pessoa responde diferente. A maioria dos meus compatriotas responde essa pergunta pensando somente na migração. “Este não é o país que me prometeram, logo me vou”. Eu digo: “Este não é o país que me prometeram, vou ficar para tentar mudá-lo”.
Apesar do embargo americano parece que vem avançando a expansão do turismo em Cuba. Você tem a esperança de que esse turismo sendo cada dia mais forte possa ser usado como instrumento de externalizar o que está aqui e, de fora para dentro, levar as pessoas a protestar?
YS - Bem essa pergunta tem uma resposta complexa porque tenho meus próprios dilemas interiores, começando por exemplo por minha própria experiência. Sei que nos anos 90, quando se abriu a ilha ao turismo, entraram pessoas que nos ajudaram a melhorar economicamente, trazendo roupas, comida, objetos de limpeza, informações, livros, tecnologia. Turistas que vinham para uma casa de família e depois voltavam para seu país deixavam roupas, algum dinheiro. Se constituíram em um elemento de prosperidade, autonomia, acesso a informação. Sou um exemplo disso. Trabalhei durante 14 anos como professora de espanhol para alemães e aprendi muito. Aprendi a ver a realidade com os olhos de quem chega.
Isso é muito importante porque às vezes quando se está muito tempo em um lugar quebrado, destruído, não vemos a destruição, a injustiça, porque se torna normal. Agora, o turismo traz danos, como prostituição, perda de valores sociais, éticos e morais, um grande mercado ilegal. Esta é a parte negativa. E também serve de suporte econômico ao sistema.
Há um medo de que ao mudar o sistema haja um descontrole. Há algo de bom a preservar da revolução? Como fazer a mudança de forma equilibrada?
YS - Isto não é uma revolução já faz muito tempo. Revolução não dura cinco décadas. Revolução é um impulso, uma faísca, uma mudança de movimento, causando um processo. Faz muito tempo que não temos uma revolução. Claro que a situação poderia ser pior. Agora, cada elemento positivo da realidade cubana, quando saímos de perto, não é exatamente como parece. Por exemplo a criminalidade. Em Havana, tem uma taxa de criminalidade provavelmente muito menor que no Rio de Janeiro, em São Paulo. Em primeiro lugar toda a vida do indivíduo está em constante vigilância como um big brother orweliano. Claro que diminui a criminalidade porque o tempo todo se pensa que estão olhando, controlando. Outra situação é por exemplo o Comitê de Defesa a cada cem metros. Em cada quadra há um. Então os criminosos estão limitados.
E a educação?
YS - Eu fui uma estudante em Cuba dos anos 80 e 90, tenho um filho 17 anos que nasceu entre os anos 90 e 2000. Tenho bastante experiência na educação de Cuba, eu gosto da educação. Para os pobres há uma escola. Eu gosto da educação em Cuba, que é obrigatória. Não gosto do excesso de ideologização, da distorção da história, da manipulação ideológica e política, do culto à personalidade. A educação é como o alpiste que te dão por acertar a rota. Agora há falta de professores qualificados. Por quê? Porque os salários são baixos, ruins. Um professor secundário básico tem um salário menor que 25 dólares ao mês. Ninguém mais quer ser professor, não existe estímulo. É melhor trabalhar como barman.
E a saúde pública ? 
YS - A saúde pública é mito. Agora, os mitos do ideal de saúde publica e educação em Cuba, como surgiram? Nos anos de subsídios dos médicos, bilhões de rublos [moeda da Rússia, que sustentava Cuba antes da extinção da União Soviética], petróleo, comida, materiais, maquinários que entravam neste país em uma proporção inacreditável. Nesse momento da história nacional fomos mais dependentes de uma potência estrangeira. Nesse momento o país podia ter uma infraestrutura educativa e de saúde publica que não tinha relação com a produtividade do país.
Como foi construído o mito da saúde? No Brasil, o governo tentou a permissão de entrada dos estudantes de medicina cubana. Como está a saúde aqui?
YS - Uma pessoa vai a um hospital em Cuba e pode encontrar uma grande contradição. Por exemplo vamos fazer de conta que há uma máquina muito sofisticada de tomografia axial computadorizada do governo. Mas não há aspirina. Tem um neurocirurgião, muito especializado, mas não tem um termômetro. Não é uma análise metafórica, é uma experiência de vida. Meu filho há seis anos teve uma cirurgia de apendicite. Nós tivemos que ir ao mercado ilegal, mercado negro, mercado subterrâneo, para comprar fio, linha, para conseguir seringas, agulhas, agulhas para colocar no soro. Além de precisar trazer presentes para médicos, enfermeiras, etc. Claro que isto não está escrito em nenhum lugar, está subentendido: se tu és meu paciente e eu vou e não levo nenhum presente, a próxima vez vou ter que esperar muito. “Não tem material, agora não posso, etc.”
Nós estamos apresentando a você, um convite para que vá ao Brasil. Lá vamos te pedir licença para que você possa fazer um debate na Universidade. Nos três meses que você poderá estar fora se for liberada pelo governo, está disposta a fazer vários debates no Brasil? Teme represália ao voltar?
YS - Eu sou uma democrata autodidata. Sou uma pessoa que acredita no debate, na polêmica, na diferença, na pluralidade e tudo isso me encanta. Escutar opiniões que é uma questão difícil, eu gosto. Me encanta viajar precisamente para poder ter esse intercâmbio, porque quando uma pessoa escuta a realidade de outras pessoas aprende muito, aprende da própria realidade quando escuta e compara o bom e o mau de sua realidade. É muito importante para mim, especialmente porque é uma viagem de crescimento espiritual, pessoal, profissional. Eu adoraria. Claro que há represália. Sempre há. Claro que pensei nisso, sempre pensei. Mas a cada dia que levanto, mais meu desafio pessoal é tratar de comportar-me como uma pessoa livre. Então o custo desta represália é infinitamente menor que a gratificação de ser livre. Já não me deixam trabalhar na mídia do meu país, não me deixam viajar, aparecer na TV. Qual é a próxima represália? Prender-me, me matar. Já não há mais nada.
Estamos te entregando esta passagem para que de alguma forma haja voz e para contribuirmos com você e a causa da liberdade de expressão. Em algum momento haverá uma forma de comunicação que eles não poderão barrar. 
YS - Eu gostaria muito. Leio muitas histórias do Brasil. Porque quando conectava a internet, eu lia muitas mensagens do Brasil.
Como é que funciona? Como é que você consegue tuitar?
YS - Bem, isso é um quesito muito importante. Twitter é um sistema que pode ser atualizado de um telefone inteligente que tenha conexão com a internet ou um PC que esteja conectado à internet, ou um tablet. Eu crio meus tuítes e os mando, eu não posso ler, não posso conhecer as tendências, não posso conversar, mas posso emitir tuítes e essa é uma missão vital. Isso tem mudado o espectro informativo do mundo nos últimos 2 anos. Se pôde denunciar por exemplo através do twitter, faz pouco tempo, que houve uma epidemia de cólera em Cuba. Pode-se fazer uma campanha para libertar ativistas, por exemplo.
Parece que as pessoas aqui hoje estão mais familiarizadas com o Facebook.
YS - As pessoas gostam mais. O problema com o Facebook para Cuba é que tem que alugar a internet. O twitter não. Vai com você em qualquer telefone celular. Mesmo sem a conexão com a internet pode ter acesso ao twitter. Por exemplo quando vocês chegaram, eu estava escrevendo algumas reflexões sobre a Assembleia Nacional, porque um jornal disse que ela era o parlamento cubano. Estava a refletir que nosso parlamento não vem "parlar" . Vem aprovar, escutar, aplaudir.
Você tem muita gente hoje com você?
YS - Creio que sim, cada vez mais. Chegam constantemente mensagens de pessoas desconhecidas. “Yoani, eu tenho acesso, leio o que escreve, te parabenizo por valentia, inteligência, pode contar comigo.” Isso ocorre constantemente, de pessoas que querem fazer algo, mas têm medo. Há muita gente. Twitteiros, blogers, ativistas, músicos de hip hop que fazem músicas críticas. Há uma efervescência, uma ebulição.
Há uma efervescência cultural? 
YS - Claro que o governo é um monopólio muito forte, mas se o governo um dia autoriza que essas bolsas patrióticas diferentes tenham um minuto na televisão nacional, seria outra coisa.
Falando de literatura, Pedro Juan Gutiérrez é um bom autor? 
YS - Eu gosto muito. Um magnífico cronista da realidade. Ademais ele vive no Centro, em bairro que impacta muito, com uma verdade muito crua, muito forte.
Nós gostaríamos que você gravasse uma mensagem de liberdade para o mundo. 
YS - Gostaria de mandar uma mensagem a todas as pessoas do mundo, especialmente àqueles que leem meus textos no twitter, que seguem se aproximando. Envio um cumprimento agora e agradeço a todos vocês que têm os olhos e o coração nesta ilha e muitos ativistas, blogueiros, twitteiros, alternativos, pessoas comuns que estamos fazendo o programa de informação de ativismo, da ilegalidade, aqui mesmo. Essa mensagem de agradecimento é também acompanhada de uma mensagem de esperança. Esperança no sentido de que sinto que hoje aqui em Cuba, estamos vivendo um momento de mudança, um ponto de inflexão, que não é atrelado nem à reforma que se articula no poder, nem aos titulares da imprensa, nem ao discurso político. A mudança fundamental para Cuba hoje é a que está no interior dos cidadãos. Uma mudança reflexiva para tolerância, para democracia e pluralidade. Isso me dá muita esperança em saber que uma geração de cubanos, a geração dos meus filhos, meus netos, encontrará um país mais plural. Obrigada.
Siga Yoany Sánchez no Twitter - @yoanisanchez

2 comentários:

  1. É lamentável saber que Yoani foi tratada rudemente aqui onde moro. Esses trogloditas não sabem o que é cerceamento da liberdade. Yoani é um exemplo mundial, de luta contra a ditadura cubana.

    Abraços!

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  2. Yoani merece ser tida com um exemplo de luta e resistencia frente a ideologias massificadoras e desumanas...é triste pereceber q há muita gente que compactua com as ditaduras disfarçadas em modelos mundialmente aceitos de governo..

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