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Avaliadores do Enem são orientados a serem menos rigorosos na correção!

Estudantes Enem - Um Asno
O texto é grande, mas para quem se importa com a Educação do país, vale uma reflexão. Deixei o magistério em 1993 convicto de que não voltaria mais àquele ofício. Razões!? Óbvias! Para este professor, ao menos, a educação neste país não vence o discurso político e a argumentação velhaca para preservar o velho discurso da luta de classes. Depois de examinar mais de 30 textos enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), acompanhados da confirmação, pelas universidades federais, de que foram aprovados no vestibular deste ano, o jornal O Globo constatou que muitas redações continham erros de grafia como “rasoável”, “enchergar” e “trousse, além de graves erros também de concordância, acentuação e pontuação. Vixi, tô lascado!!
Embora tenham recebido a nota 1.000, no Enem de 2012, essas redações não atenderam às exigências da primeira das cinco competências avaliadas pelos corretores, que exige dos estudantes demonstração do “domínio da norma padrão na língua escrita”. Numa das redações (que não recebeu a pontuação máxima, mas obteve nota alta), um estudante despreza o tema “movimentos imigratórios para o Brasil no século 21″ e descreve como preparar um miojo! 
Redação do Enem Receita de Miojo - Um Asno

Cada competência avaliada tem a pontuação máxima de 200 pontos. Como informa o Guia do Participante, distribuído pelo MEC, os 200 pontos relativos à primeira competência só podem ser concedidos aos alunos que apresentarem “poucos desvios gramaticais leves”. Segundo o guia, “desvios mais graves excluem a redação da pontuação mais alta”. O guia, inclusive, é taxativo ao apontar, entre os “desvios gramaticais mais graves”, erros de grafia, de acentuação e de pontuação, como os que foram cometidos nas provas conferidas pelo jornal dazelites, segundo o PT!. Espia só o que é esfregado na fuça do estudante antes de começar a redação:
Competências avaliadas no texto
Número 1 – Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.
Número 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
Número 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Número 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
Número 5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

O Enem também deixa claro quanto aos critérios que podem levar um aluno a tirar zero.
Razão 1 – Não atender à proposta solicitada ou apresentar outra estrutura textual que não seja a do tipo dissertativo-argumentativo.
Razão 2 – Deixar a folha de redação em branco.
Razão 3 – Escrever menos de sete linhas na folha de redação, o que configura “texto insuficiente”. Linhas com cópias do texto de apoio fornecido no caderno de questões não são consideradas na contagem do número mínimo de linhas.
Razão 4 –  Escrever impropérios, fazer desenhos e outras formas propositais de anulação
Razão 5 – Desrespeitar os direitos humanos

Ao menos a receita de miojo e o “alviverde imponente”, respeitam os direitos universais do homem, ora! O Enem deveria ser o principal elemento a forçar uma definição de um currículo mínimo nacional, mas o que se vê é um atentado para que a escola não seja mais eficiente ao ensinar literatura e gramática. A dispensa de rigor com nossa Língua Portuguesa provoca a formação de profissionais incapazes de se comunicar, tanto profissional, como pessoalmente. Haja Facebook e MSN! Como serão redigidos os relatórios, artigos científicos, livros e matérias de jornal que contiverem esses "desvios leves"?
Pior que tudo foi a justificativa do Inep que defendeu o critério que permite a um aluno tirar nota máxima, mesmo estropiando a língua! Para o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que tentou justificar, por meio de nota, a pontuação obtida pelo estudante que, na edição de 2012 do Enem, ensinou em sua redação como se prepara um macarrão instantâneo, o candidato “não fugiu ao tema proposto”. E, embora tenha dedicado um parágrafo da redação à receita, “não teve a intenção de anular sua redação, uma vez que dissertou sobre o tema e não usou palavras ofensivas”. Houve, ainda, um estudante que foi mais ousado. Transcreveu o hino do Palmeiras e tirou 500 pontos.
Redação do Enem Hino do Palmeiras - Um Asno

Neste caso, segundo o Inep, “desconsiderada a inserção inadequada, o texto tratou do tema sugerido e apresentou ideias e argumentos compatíveis”, acrescentando, ainda, que “o texto indica compreensão da proposta da redação, não fugiu ao tema por completo e não feriu os direitos humanos”. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante havia anunciado uma grande reforma no currículo do ensino médio. Segundo afirmou, a divisão de disciplinas no Enem seriam a referência para tal reforma. Quando o Enem foi criado (durante o governo FHC), sua função era ser um instrumento para avaliar o ensino médio e propor medidas de correção de rumos. 
Já escrevi muito sobre educação aqui e também já alertei para o fato de que os resultados são sintomáticos e progressivos. Já demonstrei também meus argumentos explicando porque sou contra aumentar os recursos para a educação. É só ler aqui. Os números só pioram a cada ano! "Entre os estudantes do ensino superior, 38% não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado em julho do ano passado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa. Quase 260 mil estudantes de terceiro grau no país são quase analfabetos". Assustou? Espia só: 2.420.600 estudantes do terceiro grau não conseguem ler direito um texto e se expressar com clareza! Antigamente era o que se esperava de um aluno que concluísse o ensino fundamental! Se até aqui já estava ruim de engolir, prestensão ao que publicou ontem o site do jornal gaúcho Zero Hora.
 
Em meio à polêmica sobre a correção das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na qual redações com receita de miojo e trechos de hinos de futebol receberam notas acima dos 50% da pontuação possível, uma das avaliadoras fez revelações que demonstram a precariedade do sistema de correção. Em entrevista ao programa Gaúcha Repórter na tarde desta quarta-feira, a professora de língua portuguesa, cuja identidade foi preservada em função de um contrato de sigilo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que não ficou surpresa com as notas dadas às redações:
— Somos orientados a não sermos rigorosos na correção.
A explicação dos coordenadores do Enem, fornecida aos avaliadores em uma reunião, é que se houvesse um rigor maior, a reprovação seria muito alta e muitos alunos não atingiriam a nota mínima. A professora afirmou que todos avaliadores foram orientados a não zerar os textos e fazer todos os esforços para manter a redação dentro das notas mínimas. Os que não cumprissem com isso, poderiam ser excluídos do processo de correção:
— Dentro do que foi possível, fui o mais criteriosa possível nas redações que avaliei, mas tive meu sistema bloqueado. Essa era a ameaça.
Quando questionada sobre o processo de seleção dos avaliadores, a professora afirmou que o mesmo foi feito sem muito rigor. Ela foi chamada por uma amiga, que já fazia parte de uma das equipes de correção, e não passou por nenhum tipo de prova antes de integrar o grupo. A partir daí, passou por uma capacitação online que durou cinco semanas. Houve somente um encontro presencial entre todos os avaliadores, cerca de um mês antes do início das correções. Nessa oportunidade, a professora e seus colegas fizeram uma manifestação para questionar as orientações que lhes haviam sido passadas.
— Foi esclarecido que os critérios já tinham sido estabelecidos pela equipe do Cespe/UnB, que é responsável pela prova, e que não cabia a nós questionar. Tínhamos que cumprir o que estava sendo orientado — comentou.
Indignada com o processo, a professora explicou que cada avaliador é obrigado a ler e dar nota a 3 mil redações em um período de um mês, quantidade considerada excessiva por ela:
— Como professora, acho que a revolta principal é por tu tentares desenvolver um trabalho sério, desenvolver as competências linguísticas, e depois ver que a avaliação não é séria, que os critérios não são rigorosos. Somos orientados inclusive a não penalizar o uso de emigrante no lugar de imigrante — desabafou.
Ouça a entrevista completa abaixo:

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