J'accuse - Um recado aos comentaristas mais agressivos!

Em 1898, Émile Zola escreveu um artigo denominado J'accuse (em português: Eu acuso). É o título do artigo redigido em virtude do caso Dreyfus e publicado no jornal L'Aurore em 13 de janeiro de 1898, sob a forma de uma carta ao presidente da República Francesa, Félix Faure. Discordei de algumas atitudes de Zola em sua biografia, mas tomo o sentido de sua intenção à época para também acusar um senso ilegítimo e perigoso para nossa sociedade atual. Em princípio eu havia escolhido as cores do meu blog seguindo a trilogia das cores de Krzystof Kieslowski, portanto, A Fraternidade é Vermelha (1994), foi escolhida para a composição anterior. Agora, mais do que nunca, A Liberdade é Azul (1993), tem mais sentido para o que defendo.

Escrevi vários textos para demonstrar como me preocupa o estado em que nos encontramos onde indivíduos inteligentes passam indelevelmente de adversários a inimigos quase com armas em punho. Os textos estão aqui, aqui, aqui e por todo o blog. Defendi a blogueira Yoani Sánchez (aqui), o escritor Ferreira Gullar e o jornalista Nelson Motta (aqui). Recebo todo tipo de comentário desfavorável ao que escrevo. Admito a discordância e apenas reivindico a cortesia de discordarem através do argumento e não da ofensa. Nem sempre publico ameaças e ofensas pesadas demais por razões muito simples: primeiro porque não sou obrigado e segundo porque chegam em forma de anonimato, o que é uma puta desvantagem para quem dá a cara pra bater expressando sua opinião em público.

Me acusam de ser um "reacionário nojento", de defender crápulas e atacar inocentes. O inocente em questão, obviamente é Lula. As razões que me renderam os maiores ataques foram os textos que redigi expressando minha opinião sobre Lula. Alegam que eu nem deveria ter o direito de possuir um blog para que não pudesse dizer tanta "asneira". Pois bem... Escrevo, em primeiro lugar, PORQUE POSSO! Essa é uma das razões pelas quais defendo o regime no qual vivo atualmente. Posso expressar minha opinião, mesmo que alguns "batepaus" venham a me agredir com suas ideologias humanitárias que tiram as vidas de milhões de pessoas pela história afora. Isso é o que deve deixá-los mais irados, já que nem todo mundo concorda com a falácia intelectual que pregam.

Exigiram que apresentasse provas do enriquecimento do ex-operário, enquanto presidente de sindicato e depois como presidente da nação. Já disse o que penso disso (texto aqui), mas e eles??? Onde estão as provas contra Yoani? O maior pecado que o regime cubano encontrou para demonizá-la foram as fotos dela desfrutando de um luxo inimaginável para um cubano: tomar cerveja com os amigos e comprar bananas na feira! E o resto? Uma distorção ardilosa da vida que leva e dos direitos que possui. Coisa muito comum em regimes totalitários! Dizem que a blogueira é financiada pelo EUA (tal como a maioria dos cubanos que vivem da ajuda humanitária enviada por aquele país e também os venezuelanos que tanto odeiam os ianques, mas que possuem uma economia fragilizada e dependente dos negócios com os americanos).

Ora, já respondi que, do meu ponto de vista, Yoani poderia ser bancada até pelo "coisa ruim" que de maneira nenhuma nos seria dado o direito de atacá-la como deixamos que o fizessem em nosso país. Recentemente, agrediram Yoani, o jornalista Merval Pereira e agrediram o escritor Nelson Motta. Porque? Porque dizem coisas com as quais os novos heróis não concordam! Em nosso país, o terceiro mais violento contra a liberdade de expressão, já mataram 10 jornalistas nos últimos 3 anos. É assim que damos início ao fim! Esses valentes lutam por uma sociedade justa e igualitária com direitos democráticos e um estado de direito? É óbvio que não!! A quem esses libertários humanistas defendem? A assassinos como Cesare Battisti que matou quatro pessoas em seu ato pela sua causa. A Carlos Marighella que principiou os atentados terroristas no Brasil. Defendem o italiano Achille Lollo (um dos pensadores do PSOL), que também matou pela causa e, neste caso, matou duas crianças.

Mas porque esses heróis mataram? Porque eram "adversários" do pensamento de suas vítimas. Em 1973, Lollo e dois colegas da organização Poder Operário (alguma coisa parecida com Partido dos Trabalhadores no Brasil), derramaram gasolina por baixo da porta do apartamento onde morava Mario Mattei, um gari de 48 anos, a esposa e seis filhos. Mattei era secretário de um partido neofascista, o Movimento Social Italiano. Ele ficou encurralado pelas chamas e se jogou pela janela. A esposa conseguiu pegar os filhos pequenos de 9 e 4 anos e os levou para o andar de cima, onde foram socorridos pelos bombeiros. Outras duas filhas de 19 e 15 anos escaparam descendo de um balcão. Os últimos dois filhos ficaram presos no quarto. Morreram abraçados e carbonizados. Veja foto abaixo:

Stefano, instantes antes de morrer carbonizado e abraçado ao irmão Virgílio

Longe de mim defender nazistas, neonazistas e fascistas em geral, mas é aí que está o drama! Como agem os novos heróis que vociferam nas redes e contra a liberdade que outros tem de falar? Quem mais defendem esses heróis da liberdade? Ora, Fidel Castro, quem mais?? Quantas pessoas morreram sob o jugo dos ditadores que essa súcia intelectual defende fervorosamente? O regime soviético somou 35 milhões de mortos; o regime chinês acrescenta 70 milhões de mortos; o regime cambojano junta mais três milhões de mortos e o regime cubano arremata a fatura com 95 mil mortos. Leve-se em consideração os 17 mil mortos na ilha e os 78 mil que morreram tentando fugir dela!

Intelectuais não mudam o mundo, caros fetichistas. Foram os intelectuais que criaram o nazismo, o fascismo, o comunismo, o neonazismo e todos os ismos que existem. A mudança não está no regime adotado e sim na moral percebida. Eu disse percebida e não definida! Não importam quantas regras cada regime crie. Estas serão sempre gerais e universais, enquanto que as situações serão sempre individuais e concretas! Nenhum regime será bom se assumir uma moral grotesca, uniforme e que não respeite a individualidade do próximo. Discordo porque posso e não quando posso; expresso minha opinião porque posso e não porque deixam; declaro minhas ideias porque as tenho e não porque me ordenam e, quando tacitamente percebo que estou enganado, corrijo meus erros e seleciono nova rota. Ao Lula são perdoadas todas as vezes que mudou de ideia, mesmo contrariando os princípios de sua ideologia. Porque seria diferente com quaisquer outros indivíduos? Vençam-me pelo argumento e nem tentem fazê-lo pelo cansaço!

"Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. Mes nuits seraient hantées par le spectre de l'innocent qui expie là-bas, dans la plus affreuse des tortures, un crime qu'il n'a pas commis". Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu. Assim escreveu Zola, naquela ocasião. Um inocente era injuriado e condenado injustamente, mas hoje milhões de inocentes podem pagar pela insensatez de alguns inteligentes que acreditam que o melhor dos mundos é o que consta em suas agendas e que qualquer um que se oponha é eleito adversário (leia-se inimigo), e tudo deve ser feito para que se cale e não impeça seu projeto de poder. Fizeram isso em silêncio por mais de trinta anos nas salas de aula, pulverizando sua ideologia doente como cura e agora partem para um segundo estágio que é forçar sua vontade sobre a dos demais. Seus antecessores eram mais inteligentes e eficientes!