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50 Tons de Cinza: Resenha de Um Asno

Erika Leonard James - Um Asno
Não! Não se trata realmente de uma resenha. Deixo isso para as pessoas com mais competência. Tratarei, neste caso, de uma análise do fragoso sucesso do livro de Erika Leonard James, melhor conhecida pelo pseudônimo E.L. James. Essa escritora britânica, nascida em 7 de março de 1963, é a autora do best-seller erótico Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey). Leio muitos livros, mas meu gosto literário quase sempre se prende as páginas dos livros escritos, na maioria dos casos, há mais de um século. Raramente me inclino a ler livros mais atuais, mas sempre me incendeia a curiosidade quando um livro com um tema completamente improvável para minha leitura alcança, em tão pouco tempo, a apreciação de tantos leitores mundo afora.

A ficção adulta que movimenta a vida doméstica de milhares de mulheres tem em seu título um trocadilho com o sobrenome de um dos protagonistas, Grey, que significa cinza em inglês, mas originalmente trazia o título "Masters of Universe" (Mestres do Universo), provavelmente fazendo uma referência ao domínio exercido em uma relação sadomasoquista. Este livro, segundo a autora, foi inspirado pela série adolescente Crepúsculo, mas virou um fenômeno ao combinar romantismo com sadomasoquismo. Porquê?? Por que um romance erótico como "Cinquenta tons de cinza" virou fenômeno mundial de vendas? A resposta mais coerente de que ele teria sido escrito sob medida para as fantasias de submissão das mulheres modernas e autossuficientes me intrigou ainda mais com outra pergunta. Por que as mulheres modernas e autossuficientes ainda têm fantasias de submissão?

Falar sobre o universo feminino é uma das tarefas mais complicadas e penosas que existe. Motivo pelo qual é tão difícil encontrar bons trabalhos nesse sentido. Em 2010 fui procurado por muitos empreendedores e o que me surpreendeu foi que a grande maioria se tratava de mulheres em busca de orientação para conquistar sua independência. Não demorou para que identificássemos certas barreiras invisíveis que impediam um desenvolvimento saudável e satisfatório dessas mulheres, o que me levou a pesquisar exaustivamente as possíveis causas dessas barreiras psicológicas e emocionais que tornam a vida das mulheres muito mais complicada do que a dos homens.

Notei que muito poucos enveredavam por esse caminho e o motivo principal estava centrado na resistência da própria mulher em ousar sair de sua zona de ‘‘conforto’’. Estudando as raízes desse comportamento, descobri um material muito valioso explorado anteriormente por alguns historiadores, arqueólogos e mulheres brilhantes como Simone de Beauvoir, Colette Downling, Marie Curie, Andrée Michel, entre tantas outras. Entender o sexo feminino quando nem mesmo a maioria das mulheres deseja, diriam muitos, não é tarefa para um homem. Contudo, penso eu que esta ideia pode estar errada e que poderíamos aprender muito sobre ambos os universos, feminino e masculino, analisando-os por óticas diferentes e desprovidas do paradigma contaminado por preconceitos, discriminações e ideias distorcidas que ambos alimentam uns sobre os outros.

Há cerca de dez mil anos as mulheres introduziram a domesticação dos animais, inventaram utensílios e iniciaram métodos que mais tarde se tornariam na lavoura como conhecemos. Toda essa criatividade e sensibilidade alçou a mulher a um status privilegiado na sociedade primitiva. Para a maioria, até a religião era feminina e não eram raras as sociedades onde o poder pertencia a uma matriarca. O domínio era outro! Quem mandava eram as mulheres! O que aconteceu? Por que milhares de anos depois que "transferiram" sua condição de líderes aos homens as mulheres ainda carregam a reminiscência da submissão, ainda que seja apenas entre quatro paredes como sugere a linda autora britânica.

Quando as mulheres introduziram uma nova fase na sociedade primitiva antecipando o que seria uma revolução tecnológica para aqueles tempos, invalidaram a primeira função dos homens: a de provedores. Não havia mais necessidade de caçadas longas e perigosas, quase sempre responsáveis pela redução demográfica masculina nas pequenas comunidades. O homem passou a desenvolver outras inclinações, entre elas a tendência violenta para as guerras entre as tribos primitivas. Uma nova ameaça apavorava as mulheres e as crianças por elas tuteladas porque se tornaram o principal alvo dos invasores. A segunda função da programação masculina, a da proteção, tornou-se então supervalorizada.

Não ocorreram saltos durante a história, mas gradualmente o homem foi substituindo as mulheres no campo da liderança e assumiu também a dianteira na criatividade legando a elas apenas as funções domésticas e de preparação das crianças. Milênios dessa nova organização social fizeram com que as mulheres aceitassem um papel secundário. Novos padrões foram introduzidos, sobretudo por sacerdotes (obviamente, homens!) e fábulas foram contadas em várias culturas para desprestigiar a criação da mulher. Comparem a lenda de Pandora com o mito de EVA! Deram as mulheres o posto de responsáveis pela desgraça do homem e a queda da humanidade. O pior foi que elas concordaram...

Jamais leria um livro como esse, não fosse o escandaloso sucesso que alcançou em tão pouco tempo. Imaginava que houvessem outras coisas além de uma descarada estratégia de marketing. Imaginava que o estilo, ou a criatividade da autora houvessem cativado as leitoras, mas o que constatei ao terminar a leitura é que existe ali um grave alerta para os dois gêneros. O primeiro alerta vai para as mulheres. Não pretendo ler os outros dois livros da escritora, mas se a história terminar com a vitória de Anastasia sobre o comportamento de Christian vocês serão conduzidas ao pior erro que uma mulher pode cometer quando o assunto é o homem: ele não muda! Não acreditem na falácia de que, com o tempo, o homem pode ser domesticado por seus carinhos e demonstrações de afeição. Não se trata de uma regra geral, mas o homem muda apenas por si mesmo e a tentativa de uma mulher em mudá-lo apenas reforça suas resistências. Ambos passarão a invalidar um ao outro conforme o tempo passa por que essa equação não termina nunca.

Quanto aos homens, eu tenho um outro ponto de vista para o sucesso de Fifty Shades of Grey! Não é porque as mulheres ainda carregam geneticamente o programa da submissão, ainda que seja apenas sexual (duvido disso). Para mim, a resposta é que em matéria de sexo, a maioria dos homens mandam mal bragarai! O livro demonstra como uma mulher olha para o sexo, de fato. Ela o considera desde o primeiro olhar e a primeira entonação de voz do possível parceiro, até muito depois do êxtase final do contato. A maioria dos homens pensa que o sexo restringe-se apenas ao período em que ambos se encontram nus. Tantas leitoras no mundo devem significar algo aos homens que ainda não acordaram para esse alerta! Às vezes, um diálogo muito bem conduzido também é sexo para ambos os gêneros.

Encerro deixando meu registro de que as mulheres devem manter sua autossuficiência e que busquem retomar o seu lugar de prestígio social sem se igualar aos homens naquilo que temos de pior. Abaixo eu transcrevo o poema de Victor Marie Hugo, "O Homem e a Mulher", que considero como a ótica que devemos nos olhar mutuamente.

O homem é a mais elevada das criaturas;
A mulher é o mais sublime dos ideais.
O homem é o cérebro;
A mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz;
O coração, o AMOR.
A luz fecunda, o amor ressuscita.
O homem é forte pela razão;
A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence, as lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos;
A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece, o martírio sublima.
O homem é um código;
A mulher é um evangelho.
O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.
O homem é um templo; a mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos;
Ante o sacrário nos ajoelhamos.
O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter , no crânio, uma larva;
Sonhar é ter , na fronte, uma auréola.
O homem é um oceano; a mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que adorna;
O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa;
A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço;
Cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra;
A mulher, onde começa o céu.

Quem pode afirmar qual dos dois gêneros é melhor do que o outro? O mundo precisa da poesia e da prosa; da luz do sol e do repouso da noite. Não há como manter nossa visão do gênero dividida por diferenças, mas por semelhanças.

Um comentário:

  1. Para a entrega, que teve lugar na tela grande Fifty Shades of Grey com Jamie Dornan tem sido bastante baixo em relação ao livro, esperados mais cenas e pontos-chave, ele realmente parecia ser uma coisa bastante bregas, que em primeira instância, o livro ainda não Ela coloca-lo em um brusco. Nas expectativas para que nós leitores que pode ter sido bastante elevada.

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