Diário de Viagem: De Birigui a Palmas de carro - Parte 03

Jamorreu

Incrível como a gente se apega a qualquer companhia quando se sente meio no isolamento. Meu companheiro Jamorreu tá meio sumido hoje. Ainda não veio me ver... Por uma trapaça do destino terei de ficar em Palmas até segunda-feira aguardando uma correspondência do Sedex que partiu de Birigui às 9h30 do dia 04/12/2013. Distâncias longas têm seus inconvenientes. Não me restará muito a fazer, senão dar umas voltas na cidade e tirar mais algumas fotos. Tá ficando meio chato agora. Sem dinheiro pra nada e sem a companhia do Jamorreu o sentimento de nostalgia carrega o ar com um certo desespero. Choveu de novo aqui pela manhã, mas o Sol já reconquistou seu império atroz e tirano. Com certeza conseguiria preparar uma boa refeição apenas com a ajuda do asfalto quente. Rapaz... Tô com fome!

Terei de me aguentar até na segunda apenas com o café da manhã servido no hotel. Para minha sorte é uma bela de uma refeição! Nestes dias já vi entrarem e saírem vários tipos de hóspedes. Até o time de Araguaína que bateu o São José (time local), na quarta-feira se hospedou aqui. Cometi vários erros nesta viagem por calcular que minha estadia seria breve. Não trouxe um par de chinelos ou um tênis confortável para caminhar (e as caminhadas aqui são longas!), não trouxe cotonetes (como isso faz falta às vezes!), não trouxe uma bucha para me lavar e estou lavando minha roupa na pia do banheiro porque minhas glândulas sudoríparas não cessam sua produção impondo-me várias trocas de roupa. Estou sem ânimo para dar um rolé pela cidade e a ausência do Jamorreu me faz ter outras preocupações.

Que fim terá levado meu companheiro? Será que já morreu? Seu estado de saúde não é dos melhores desde que o conheci na segunda-feira quando cheguei ao hotel. É lamentável que existam tantos como ele abandonados pelas avenidas da cidade. Em Birigui, ao menos teria a ONG Anjo Animal para abrigá-los, mas aqui percebi um descaso enorme. A foto acima é dele em sua melhor forma física, mas infelizmente ele está sempre se convulsionando como se sofresse de asma. Vez por outra eu surrupio algum petisco servido durante o café para levar até ele. Se a administração souber serei expulso porque não é uma prática que agrada muito aos hoteleiros. Afinal... desse modo os vira-latas jamais se afastam de seus hotéis!

Várias coisas simples da minha rotina começam a me fazer sentir pela sua ausência. Televisão nunca foi uma opção de entretenimento para mim, mas aqui sé me restam quatro canais e a maior parte do tempo são ocupados pela programação da Igreja Universal ou a do Valdomiro Santiago. Os jornais locais são muito bem produzidos, mas me apavoram. Só me fazem lembrar como são perigosas as estradas e dos riscos a que posso me expor ao sair pelas ruas. A galera do crime manda brasa também por aqui. O trânsito também não nos mataria de inveja. Mais uma prova de que ogro ao volante é uma espécie que jamais entrará em extinção. Acreditem! Tô sentindo saudade até daqueles que me detestam em minha terra.

Continuo...