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Meu segundo aniversário e um recado aos que me detestam.

Wladimir Herzog - Um Asno
A foto acima é do jornalista Wladimir Herzog, o Vlado, morto pelo regime militar em 25 de outubro de 1975. Essa imagem é menos popular do que aquela onde ele se encontra suicidado pelos militares. É o caso de Vlado a maior razão para que eu jamais aceite regime autoritário de que origem for, esquerda, direita, do inferno ou do céu. Tenho problemas sérios com o sentido mal aplicado da palavra autoridade! Tornei-me fã incondicional de Vlado, não por sua obra e tampouco por suas qualidades, mas porque ele representa em minha particular psicologia o asco que alimento por qualquer forma de simpatia pelo poder totalitário. No último dia 31 de Março, enquanto intelectuais, jornalistas e fanáticos de toda estirpe discutiam os 50 anos do Golpe de 1964, este irritante blog completava seus míseros 2 anos de existência. Lógico que andei ocupado com um projeto que demanda criação e a criatividade consome não apenas o tempo, mas também exige uma priorização do que se tem para fazer. Por isso não escrevi nada a respeito! Mas alguma coisa é necessário registrar.

Quando o regime militar estava a pleno vapor e imprimia uma atmosfera mais densa contra a oposição nos anos de 1970, eu confesso que tenho de fazer uma brincadeira e dizer que não senti a "ditadura" naquele período! Encontrava-me naquele momento entre os arrozais, as plantações de feijão, os campos de algodão, tomate, amendoim e cana. A velha Teleotto, nossa televisão mais moderna para o momento, só servia para sintonizar "Os três Patetas", "Charles Chaplin" e algumas novelas, cuja temática era rural. Na hora crucial era o rádio que invadia os cômodos da velha casa de chão batido. E tome "Voz do Brasil"!. Star Wars eu só fui assistir em 1979 numa reprise! De fato só sabíamos os nomes do governador e do presidente. E olhe lá! Sobre o Vlado, então, só depois de muitos anos! Geralmente havia confusão nas conversas de sala, regadas com uma cachacinha, onde eu participava apenas como ouvinte. Criança não dá pitaco em conversa de adulto e ponto. Além do mais eu não teria nada pra dizer mesmo. Mudamos-nos para a cidade (uia!) em 1980 a fim de encontrar condições mais favoráveis. Fatal engano! Ainda não sentíamos a "ditadura" dos militares nos enrabando, mas as condições não poderiam ser mais desfavoráveis. Daí veio o susto...

Em 30 de abril de 1981 teve o atentado ao Riocentro no Rio de Janeiro e passei a acreditar que acontecia algo de errado com o país. Dali para frente eu buscaria razões para corresponder a minha patologia de me sentir pertencente a algo. Buscaria um lado para me alistar. Demorei muito pra entender que não havia um lado correto na história. Atualmente há um esforço para recontar a história daquele período, cada um querendo demonstrar como foi a ângulo da invasão sentida pela "ditadura" naquele período. Mas algo tem que ficar claro: se havia alguém mais que vendido naquela situação toda entre os reacionários e os "progressistas" era o povo! Claro que houveram excessos por parte dos milicos, afinal, onde não existe ao menos um milico que se excede? Mas com tudo o que constatamos recentemente, convenhamos... Seria diferente com outro regime que também nascia de uma proposta ideológica tão autoritária e pouco aberta a democracia como o daqueles malucos que recorreram a práticas terroristas e hoje tentam a todo custo obter o controle máximo do poder e até das opiniões? Querem se posar de heróis e assaltam até uma das qualidades máximas da democracia que é a liberdade de expressão. Discursam, manipulam, vendem ilusão, cobram caro por sua luz no parlamento e no executivo. E não passam de bestas! E o povo? Ora, o povo... Era acusado de ser massa de manobra naquela época! E o que ocorre agora? Continuamos massa e... de manobra! O povo é só a ponte para o poder de gente que não presta até o osso e que nunca teve o menor compromisso que não fosse consigo mesmo!

O que eram as juventudes que seguiam a risca o manual infame do Marighella? Libertários? De quem? A presunção de que poderiam fazer melhor subjugando o povo que não era capaz de pensar por si mesmo e necessitava da condução inspirada daquelas suspeitas lideranças é um acinte! Aparecer na TV fazendo proselitismo e defesa da suposta resistência do povo proclamando que eles eram os verdadeiros guerreiros da liberdade que lutavam pela democracia é uma grande filhadaputice com um exagerado emprego da extrema cara de pau! A democracia veio e foi conquistada a duras penas pelos pacíficos de verdade. Burocratas, sim, mas não vândalos e terroristas. Estou convicto de que o regime militar foi uma mancha horrível em nossa história. É a mesma convicção que tenho do regime populista de Getúlio Vargas e aí transponho também para o mais recente regime da ilusão perpetrado nos últimos anos. Entretanto... Acabou o regime da "ditadura" entrando! O que temos pela frente é mais sombrio do que nosso passado se não refletirmos nosso rumo ao abismo autoritário que está se implantando aos poucos desde as instituições educacionais como pudemos ver recentemente na Universidade São Francisco. O que temos pela frente, sobretudo se a juventude não reavaliar suas motivações, é uma outra "ditadura" entrando... E essa pode doer bem mais do que a dos milicos!

Essa gente que cobra para si o manto da defesa do povo não o faz para ou pelo povo! Eles acreditam realmente que são detentores de uma verdade reveladora que nós, o povo, somos incapazes de compreender e, para tanto, temos de recorrer a sua inspirada sapiência. Depois eu é que sou arrogante! Eu reconheço o quanto o meu grau elevadíssimo de arrogância é prejudicial a mim mesmo! Mas essa galera... Prejudica toda uma nação e sua história. Digo não a qualquer "ditadura"! Não importa o quanto a cubram de adereços e a disfarcem como se para o meu bem fosse. A única liberdade que acredito possuir, já que liberdade de fato não existe, é o prazer que sinto ao expurgar de minha cabeça os pensamentos que me perturbam. Escrever, para mim, é um ato de liberdade. O Faço porque o desejo e desejo-o porque posso! Controlem o seu desejo de controlar os outros e não a minha opinião. Todos têm o direito a uma opinião, ainda que seja a mais ridícula e inaceitável. Só posso me opor a uma opinião da qual discordo, jamais impedir que ela seja exposta.

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