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Reflexão: Um ano de exílio...

Meu blog é um lugar onde me escondo publicamente! Nele gosto de registrar o que penso sobre algo em determinado momento e desse modo posso rever o que registrei. Não registro minha intimidade mais do que o conveniente, afinal, tenho mais gente que me detesta disposta a me agredir do que admiradores. Tenho o costume de sair pela cidade com minha caderneta preta anotando todas as impressões que tenho dos lugares e pessoas. Hábito pouco compreendido pelos jovens que me observam confusos no Metrô. Nem tudo em mim é ruim... Há pessoas capazes de extrair o pouco que há de bom em minha personalidade, como minha dedicação, minha compreensão, meu desprendimento, minha fidelidade, meu caráter e minha grande capacidade de ser lucrativo aos que me contratam... Na verdade, meus defeitos me tornaram rentável! Geralmente gosto de fazer um balanço de tudo o que me ocorre sempre ao final de um período que na maioria das vezes acontece no final de cada ano. Dessa vez, o ciclo é outro... Hoje completa um ano desde que me tornei guarulhense! Antes disso tive de passar por um estágio na Zona Leste paulistana para me integrar a esse novo mundo. Precisei me adaptar as novas linguagens, conhecer as malícias do ambiente e explorar toda a geografia local. Não foi nada fácil, sobretudo nos primeiros quatro meses.

No momento em que decidi vir para cá e não para Terra Roxa (PR), onde já estava com emprego e privilégios garantidos, sabia que a escolha me seria cara. Estava fragilizado ao considerar que todas as pessoas (excluindo minha mãe), estavam certas a meu respeito. Minha mãe apostou em mim mais do que eu mesmo! Houve mais quem acreditasse em mim, mas isso não era o suficiente para que eu entendesse que o problema era outro. Sou um oceano de arrogância, isso não o nego! Sou extremamente ácido e combativo e isso me custou a socialização com muitas pessoas que eu gostava. Vir para a Grande São Paulo era, também, uma maneira de favorecer a essas pessoas com a minha ausência. Levei um tempo para entender que era o guerreiro e não o intelectual que São Paulo chamava. Ainda mais por que a filadaputice de quem não me queria aqui por se sentir ameaçado me colocou bem no meio de um ambiente completamente hostil e fora da minha formação. Não poderia ter ocorrido coisa melhor comigo! O guerreiro retornou...

Quando consegui me estabelecer e ter a oportunidade de me mudar para um lugar com padrão mais desejável, não quis mais deixar a periferia. Já estava "ambientado" e fascinado com toda a riqueza de histórias e vivências que ela me proporcionava. É fato que me coloquei em risco por várias vezes, mas também fui capaz de superar as ameaças. Hoje começo a crer que meu tempo no subúrbio já deu... Me associei a um grupo fantástico de pescadores e com eles pude abraçar o Mar. Deus sabe o quanto odeio pescaria (que eles não leiam isso!), mas amo o Mar e sua ameaçadora imensidão. O Mar, talvez seja o melhor professor para o homem sobre suas próprias fraquezas. As pessoas que me conheciam sabem o quanto sou bom em converter minhas fraquezas em vantagens. Minha mãe me conhece bem e sabe que desde muito pequeno nunca fui covarde com coisa alguma. Possuía dois temores apenas: ser traído (já o fui, isso não me afeta mais) e ficar solitário (este último foi por escolha). O exílio na Capital trouxe grandes vantagens, além da monetária que era praticamente nula na região de Araçatuba. Perdi muita coisa naquela região e talvez a mais importante fosse a minha própria autoestima. Não me recordo da empresa desintegrada, dos adversários revelados e dos falsos amigos. Guardo apenas a recordação dos bons parceiros, os amigos reais e as poucas pessoas que me mantiveram lutando quando isso não mais fazia sentido.

Aqui a história é recontada... É um mundo muito louco e fascinante. Com certeza não duro muito nesse mundo se insistir em mergulhar mais fundo em sua neblina! Tenho o hábito de sair durante as folgas do trabalho para conhecer melhor as regiões e suas diversidades. Tudo ocorre numa velocidade incrível. Tudo aqui favorece minha imaginação. Todos os dias tenho uma experiência nova para digerir e quanto mais o tempo passa, mais me certifico de que não estava tão distante de minha própria natureza. A velhice está me tornando mais rico... Recentemente, no bairro Jaçanã, a caminho do Tucuruvi, estive presente enquanto dois episódios se embaralhavam ao mesmo tempo. Enquanto eu procurava palavras que descreviam o que me rodeava para anotar em minha caderneta, uma senhora pensou-se mais veloz que o ônibus que contornava uma pequena praça e decidiu competir com ele. O impacto ocorreu e ela lançada foi ao chão com gravíssimo ferimento. Demorei para descer do ônibus por que aquele fato me colocava no meio da noite em um lugar que eu não conhecia. Ao descer procurei por placas, pontos de referência ou de táxis.

Na última vez que visitei minha família tive um problema no ouvido. Estou surdo agora. Perdi completamente a audição no meu ouvido direito e mantenho apenas cinquenta por cento do esquerdo. Isso me torna mais vulnerável e desprevenido para possíveis agressões. Apenas pude sentir o ar se mover rápido por causa de algo que ocorria pelas minhas costas. Me virei, ainda absorto quanto ao que acontecia àquela senhora estendida no solo com muitos curiosos a sua volta e nenhuma ajuda. A cena era revoltante! Uma guria lutava com todas as forças para recuperar seu celular afanado por um brucutu que se aproveitou da desgraça daquela que jazia estendida em frente ao ônibus. A guria venceu... Derrubou-o por duas vezes e na última o cretino parou próximo a roda de outro ônibus que se dirigia ao local que eu desejava ir. Minha sorte... Infortúnio daquela senhora que não voltou para sua casa naquele dia. No ônibus pude refletir sobre o cenário que aos poucos começava a compreender. Ainda não tinha considerado o primeiro evento e já me envolvia no outro. Aquela senhora acabara de sair de alguma mercearia e conservava presas aos dedos da mão suas sacolas com o que, provavelmente, seriam os ingredientes que ela utilizaria para preparar o jantar. Quem jantaria com ela? Seu esposo, filhos, netos?

No ônibus que eu tomei rumo ao Tucuruvi também estava a jovem que vencera o marginal. Ele fugiu e deixou um belo corte na perna da moça, mas ela recuperou o celular e narrava sua história a sua mãe que estava atônita do outro lado da linha. Como não estaria? A filha confessou ter enfrentado um bandido por causa de um celular! Para as pessoas que estavam no ônibus, inclusive eu, poderia ser imprudência, imaturidade ou até mesmo o régio direito de se defender e não permitir que folgado algum a afrontasse. Mas, naquele dia, naquele momento e lugar, uma mãe não voltou para casa e para seus filhos... Uma filha pode retornar para sua mãe. Eu... Segui meu caminho... É um mundo muito louco e é justamente onde eu devo estar nesse momento. Estou ficando velho e mais ogro. Kafka faz sentido agora! Recomecei... Mais uma vez na vida! Mas, aquilo que sempre foi interpretado pelos outros como minha maior fraqueza me tornou muito mais forte. Sou asquerosamente muito mais arrogante agora, muito mais determinado e extremamente resistente. Aquilo que não me destruiu, me fez mais ogro e focado. Não espero rever nenhum conhecido e, ainda que isso aconteça, não serei mais eu. Não acredito que quem tenha me conhecido no passado terá de novo a curiosidade para me reencontrar, pois sou muito pior hoje! Se era um incômodo me tolerar antes... Agora será insalubre!

Um comentário:

  1. samuel camargo de anchieta03 agosto, 2015 18:24

    Pode Ficar despreocupado que não vou te procurar. Como a grana melhorou, compra um aparelho para o ouvido que restou. Um abraço.

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