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Artigo publicado na Folha da Região de Araçatuba, quinta-feira, 15 de janeiro de 2004, no Caderno Birigüi.

Pra não dizer que não falei do Bush!

Nilson Alves de Souza

A democracia demonstra seus primeiros sintomas de fracasso. Nos Estados "mais que" Unidos, o presidente George W. Bush, que posou de herói no final da guerra do Golfo, mas não teve a coragem de seguir o exemplo de seus antecessores durante o ataque de 11 de setembro, ensaia sua dança da vitória para seu próximo show da reeleição. A corrupção deixou de ser uma virtude cobiçada pelo alto escalão político para se reproduzir de maneira eufêmica na população.

E aqui na nossa economia microcivilizada? O nosso excelentíssimo presidente no ano anterior diagnosticou, surpreso, que "a África é limpinha" porque em suas viagens pelo exterior fica difícil enxergar como os 54 milhões de representantes da pobreza no país são obrigados a viver e ver o que vêem em seus quintais.

Eu, como morador privilegiado da periferia de Birigüi, não preciso me preocupar com os sonhos de imperialização dos americanos. Sou mais preocupado com a situação da rua onde moro, que todas as vezes que chove, a exemplo de outras ruas em situação semelhante, torna-se atração aquática de primeira. Até sugeri à Associação de Amigos de Bairro (inexistente ou alienada) que imprimisse convites aos surfistas cariocas para se aventurarem em nossas ondas (sendo elas mais arriscadas, é claro). Nosso gentil prefeito, Florival Cervelati, que em suas próprias palavras possui uma gestão que "não é muito simpática à inadimplência dos contribuintes", anda muito preocupado com a qualidade da foto que será tirada ao final de seu mandato. Digo isso por causa de suas promessas, convenientes, de recuperação do asfalto já envelhecido da cidade; a perfuração de mais um poço profundo (é o homem do poço); sua preocupação com a arrecadação e seu entusiasmo com a cobrança, justificada, dos tributos, o conduzem ao esquecimento de que o contribuinte espera ver sua parcela de cidadão se materializar diante de sua casa e não no jardim central do município.

Com certeza, ele deseja ter o seu melhor mandato depois dos períodos turbulentos da recente história econômica do país. Não o culpo. Não sou tão estúpido! Aliás, os políticos da atualidade se tornaram exímios na arte de gerar justificativas, sendo que hoje é "fashion" culpar o governo anterior. Nossas desculpas remontam aos colonizadores portugueses!

O prefeito está preocupado com os buracos na cidade? A rua José Masson, onde moro, tem os melhores buracos da praça. É um espetáculo! A ironia nisso é que eu moro em frente ao local onde o asfalto é preparado!

A minha mulher está preocupada em pagar a conta de água que está atrasada... Eu estou preocupado é com a água que entra em minha casa... Os vereadores se preocupam com a imagem do governo que eles querem deixar... Eu me preocupo com a mudança de comportamento que nunca virá!

Mas, afinal, o que eu quero? Os administradores do município são o resultado da "peneira" da sociedade birigüiense, logo, não é com os edis e o prefeito que preciso me preocupar e sim com meus concidadãos. Aliás, vou pedir uma forcinha ao Bush para fazer uma intervenção fraterna como a do Iraque em Birigüi. Começo a temer o que meus vizinhos irão tramar contra mim nas eleições municipais. Já pensou? A administração americana do Iraque instalada na região! Melhor assim... Se continuar da mesma forma, aí sim, eu estou perdido!

Nilson Alves de Souza

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Artigo publicado na Folha da Região de Araçatuba, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004, no Caderno Birigüi.

J'Accuse...

Nilson Alves de Souza

Em janeiro de 1898, o romancista Émile Zola denunciou uma conspiração contra o inocente Alfred Dreyfus em uma carta ao presidente com o título "Acuso!". Sei que a comparação é pobre, mas ainda assim acuso as autoridades birigüienses de conspirar contra o povo desta cidade.

Eu acuso os empresários, senão na totalidade, em sua grande maioria, com a sua política de redução de custos (muito justa, mas que exclui de seu quadro seletivo os trabalhadores de Birigüi) de conspirarem contra o progresso da cidade que, entre as estrelas da constelação noroestina, é a que maior potencial apresenta. Além disso, os empresários conduzem seus postos de trabalho a outros municípios em busca de mão-de-obra mais qualificada, caindo no contra-senso de que mão-de-obra mais qualificada significa salário proporcional à qualificação, algo que não fica muito evidente em suas intenções.

Eu ainda acuso a imprensa local de conivência com os fatos e distorção da realidade. Eu acuso as pessoas com poder de atuação de não dedicarem seus esforços com mais vigor e, acima de tudo, acuso enfaticamente o cidadão birigüiense de permanecer entorpecido diante do quadro alarmante que se forma.

Birigüi não tem tantos motivos para se orgulhar de ter ultrapassado a marca dos 100 mil habitantes. Quase 10% (ou mais) desse contingente se encontra desempregado ou na situação humilhante do subemprego (os famosos bicos).

O descaso com a realidade nos conduz à banalização dos artigos constituintes, nos quais a dignidade e o direito à inclusão social formam o dogma central da "Carta Magna". Seguimos com nosso "não é meu problema" enquanto centenas de pessoas vão deixando de cumprir com suas responsabilidades, com a tributação e necessidades do lar. E o nosso prefeito vai oferecendo brindes ao "bom pagador", como se inadimplência fosse uma linha de conforto que o mau pagador se encontra por não se sentir obrigado a pagar. O mau pagador existe, e seu defeito e o descaso com as contas públicas e os compromissos dos outros. Mas o inadimplente ocasional (desempregado) só possui um defeito: a esperança de que seus governantes vão mover uma palha para mudar sua situação.

Vi pela TV o comentário do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) no qual ele acredita no sucesso do projeto incubadora. Lamento profundamente não ser tão otimista quanto ele. O volume de postos de trabalho criados é irrelevante, o auxílio aos empreendedores ainda deixa a desejar, o grau de empreendorismo é sofrível e o birigüiense ainda não se encontra apto a buscar uma alternativa mais saudável do que se prender à famigerada CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Ninguém entendeu ainda que, assim como o Shopping do Calçado acabou demonstrando, não se acredita em uma monocultura industrial.

Birigüi tem aptidão para o sucesso, desde que seus munícipes busquem alternativas em outros segmentos e os desempregados se organizem em cooperativas ou associações de prestadores de serviço. Como toda acusação deve vir acompanhada de provas, ei-las: o comércio sofre porque ninguém tem poder de compra e os que têm, gastam em outros municípios; os trabalhadores são obrigados a aceitar a redução no salário em carteira para serem reintegrados ao mercado formal; a imprensa afirma que está tudo bem e vamos todos ouvir He-man (argh!!) na praça Dr. Gama no domingo; e, finalmente, ainda não consegui pagar minha conta de água!

Nilson Alves de Souza, escritor e webdesigner, Birigüi

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