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“A mulher tem que entender que ela deve submissão ao marido, doa a quem doer" - Blog do Asno

A cidade de Anajatuba (MA) deve ter muito do que se orgulhar nessa semana por que uma de suas ilustres filhas, a deputada estadual Mical Silva Damasceno, uma mulher, com formação superior, cujas bandeiras políticas são a defesa da família, a assistência social, a saúde e a segurança pública, que já foi uma das mais bem votadas do seu estado e que foi reeleita pelo PSD nas eleições de 2022 para seu segundo mandato com nada menos do que 52.123 votos, durante sessão plenária da Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema), afirmou que apenas homens devem participar da sessão solene que será realizada no próximo dia 15 de maio, quando será comemorado o “Dia da Família”.

São suas essas pérolas verbalizadas em plenário: “Nós comemoramos o Dia da Família em 15 de maio e aí veio uma ideia, em meu coração, que acredito que seja divina (!), de nós fazermos uma sessão solene aqui, mas somente com homens para mostrar à sociedade que o cabeça da família é o homem”... “Vamos encher esse plenário aqui de macho. A mulher tem que entender que ela deve submissão ao marido, doa a quem doer". Ela ainda reiterou o que disse em suas redes sociais com a seguinte legenda: “O homem é o cabeça da família. A mulher é submissa ao seu marido!”, fazendo menção a Efésios 5:22-33.

Agora eu entendo porque os bolsonaristas defendem com tanta garra uma liberdade para se expressarem sem limites! De que outra maneira terraplanistas e outras aberrações como essa poderiam ganhar palco nos debates naquilo que eu considero o esgoto do inferno e que sequestrou o bom senso da sociedade: as redes sociais! Desde que o bolsonarismo ganhou protagonismo na política não tenho tido ânimo algum para expressar minha opinião... Quando os estúpidos lutam com tanta força pelo direito de falar é melhor que aqueles que tem algo a dizer se calem... Mas, essa doeu!

Já me senti provocado em outra ocasião para defender o legado de Simone de Beauvoir (aqui) do ataque ignorante do deputado pastor Marco Feliciano por que até meu estômago tem limites para esse tipo de pensamento. Não sei se as eleitoras de Mical Damasceno se sentiriam felizes tendo eleito ela como representante, mas sendo que essa representação pudesse ser dirigida por seu marido. Não que seja o caso, de fato, pois, a deputada, defensora da superioridade do marido, é divorciada. O que pensariam Olympe de Gouges que publicou a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”Millicent Fawcett, Emmeline Pankhurst, Emily Davison, Leolinda Daltro, Bertha Lutz, Celina Guimarães Viana, Mietta Santiago e até mesmo Alzira Soriano, a primeira mulher a ocupar um cargo político no Brasil?

Quão doloroso não seria para essas valiosas mulheres que muitas vezes pagaram caro com suas próprias vidas e se submeteram a monstruosas violações e que, ainda assim, deram contribuições gigantes para uma jornada de equilíbrio entre homens e mulheres, se acaso percebessem que depois de mais de dois séculos uma mulher se valeria da luta delas para ser eleita e defender o atraso contra o qual elas lutaram. Longe de desperdiçar meu tempo com a discussão bíblica, vou restringir minha reflexão apenas ao contexto cultural em que uma interpretação mais linear de Efésios fizesse sentido até pouco além da idade média. Não existem mais homens cabeças de nada! Isso já foi superado há muito tempo desde que se percebeu que somos uns babacas para muito além das questões familiares e quase todas as outras esferas. Nós é que nos mostramos muito inferiores ao longo da história.

Não sou daqueles que acreditam que a humanidade evoluiu a partir do macaco, porém começo a crer que alguns de nós pode ter mais laços com outro tipo de animal: o burro! Cada dia que passa vejo muito mais gente com o desejo de voltar a andar de quatro para se tornarem mulas intelectuais! Só agora, com cinquenta anos, começa a fazer sentido para mim as histórias que eu ouvia quando pequeno sobre a mula sem cabeça! Eu sei... Quanta injustiça com os muares!

Depois de tanto progresso, o bolsonarismo conseguiu resgatar a imbecilidade coletiva pré iluminismo. Já entoamos hinos ao pneu, já pedimos socorro a alienígenas com nossos celulares, já tentamos provar que a terra é plana e agora desistimos de tudo o que foi conquistado pelas mulheres em nome de uma "obediência" a superioridade masculina...

Não se trata de interpretação sobre o significado da palavra "submissão". Submissão é subordinação por estado de inferioridade e ponto! Antes do apóstolo Paulo, a submissão no contexto religioso era entendida como temor e obediência ao Criador. O homem que recriou o cristianismo a sua maneira igualou, por conveniência, essa superioridade do Criador no homem. Lamento, mulheres, mas essa condição são vocês que aceitam, não os homens que impõem. Lamento, uma vez mais, que minhas filhas tenham que conviver com o pensamento de mulheres como Mical Damasceno. Nesse caso específico, ouso afirmar que a deputada pode ter razão.

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