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O que importa... de João Bosco Leal

Rubem Alves, Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro - Um Asno
Na mesma semana que meu amigo Hélio Buzzo partiu, também partiram três grandes estrelas da nossa literatura. Rubem Alves, Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro. A literatura nacional encolheu... Perdeu valiosas páginas de três mestres que foram elevados a categoria dos grandes imortais das estantes. Uma macabra coincidência fez com que os três fossem elevados quase ao mesmo tempo em que três aeronaves despencaram do céu, tamanha a proporção desses gigantes nas alturas. É como se do uniforme da Seleção Brasileira fossem arrancadas 3 das suas conquistas memoráveis em torneios mundiais. Afirmei várias vezes que escrever é para mim quase uma obsessão. Escrevo por necessidade como se ar e água, fossem ainda menos necessários para minha felicidade, mas... Deixemos que alguém mais, com o espírito também cativo da escrita, entregue sua opinião sobre o que nos faz escrever e por que esses nobres senhores merecem todo o nosso respeito e admiração. Como a palavra, João Bosco Leal:

O que importa

Entre as fantásticas obras escritas por Fernando Pessoa uma das frases que mais gosto é: "Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto". Em determinado período de minha vida comecei a escrever sobre um assunto específico - o direito de propriedade -, que me interessava ideologicamente e ao qual me dedicava, em função de um cargo que ocupava. Há alguns anos, porém, tenho escrito a respeito do que penso ou sinto sobre os mais variados assuntos. Essa mudança ocorreu principalmente após um acidente, que me levou à cama por praticamente dois anos e então, tinha tempo de sobra para refletir sobre minha vida e as pessoas que me cercavam. Como poli traumatizado, por diversas vezes fui questionado sobre as dores dos ferimentos, mas elas sempre foram muito menores daquelas sentidas pelas descobertas que realizava com minhas observações e pensamentos.

Quando comecei a escrever, os comentários das pessoas eram realmente intrigantes, como o de um conhecido, que ao saber que havia escrito o texto "O homossexualismo na sociedade brasileira" me questionou: "Uai João, mas você entende sobre esse assunto?". Explicar para uma pessoa que meu texto tratava do comportamento social de forma histórica, no decorrer de séculos, narrando inclusive trechos bíblicos, criaria situações até constrangedoras, pois para algumas pessoas, é difícil entender que foi por meio da história, da literatura universal e das observações que possuímos todo o conhecimento hoje existente. Mesmo antes da invenção da escrita, o conhecimento adquirido através das observações foi passado por gerações, mas a com a escrita tudo ficou mais fácil. Ela não transmite apenas conhecimentos. Pode transmitir muitas outras coisas, como os sentimentos e é nesse campo que muitos se realizam, pois escrevendo, conseguem expressar melhor o que pensam ou sentem.

Com as novas tecnologias da comunicação, abriram-se espaços inimagináveis uma década atrás. Atualmente, qualquer um pode escrever o que pensa sobre qualquer assunto e em segundos poderá estar sendo lido e debatido em outro continente. Quem gosta de escrever e hoje utiliza a internet, há alguns anos não imaginava que poderia, em segundos, transmitir a tantas pessoas, o que pensa ideologicamente ou o que sente em relação aos amigos, filhos, netos, um relacionamento, uma paixão ou um amor. "Escrever é fácil, você começa com maiúscula e termina com ponto. No meio, você coloca ideias", escreveu Pablo Neruda. "Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta"... "Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha"... "Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa"..., escreveu Rubem Alves.  

Consciente de que, mesmo com um texto transmitindo eletronicamente para milhões de pessoas, muito poucas terão interesse no que foi escrito, escrevo simplesmente porque escrevendo me sinto bem. A importância do que escrevo pouco importa. O que importa é escrever sobre o pouco que importa. 

João Bosco Leal*      www.joaoboscoleal.com.br 

*Jornalista, escritor e empresário

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