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Recomendações aos filhos... dos Pais

Dia dos Pais - Blog do Asno
Há em nossa língua um substantivo masculino com apenas três letras, sendo duas vogais e uma única consoante. Tem seu significado abrangente para contextos diferentes, mas é muitas vezes uma das primeiras, quando não a primeira, palavra que aprendemos a pronunciar. Trata-se da palavra "Pai". É das mais fáceis em nossa pronúncia depois de "mama" e das mais emocionantes de se ouvir quando sai de lábios ainda tão pequenos e inocentes quanto os dos nossos filhos que a aprenderam antes mesmo dos primeiros passos. Do sentido da palavra "pai" podemos extrair outras propriedades. Dele podemos derivar outras palavras como "lealdade", "dedicação", "rigor", "disciplina" e "abnegação". Há 15 anos não posso permitir esse prazer ao meu pai já falecido de maneira trágica. Dizem que o tempo abranda as memórias ruins... Besteira! Apenas estanca o pranto e cicatriza o corte traumático. Porém, há outras coisas que a memória nos proporciona. No meu caso, guardo muitas! É fácil recordar cada detalhe especial do tempo que tive meu pai em minha vida.

Se eu simplesmente fechar os olhos e silenciar tudo a minha volta, consigo recordar o som dos seus passos dentro do nosso antigo lar. Passos calmos quando preparava o café para minha mãe, passos ligeiros quando se preparava para o trabalho e passos pesados quando me perseguia com um cinto na mão! Os mesmos passos também poderiam ser interrompidos por fortes dores quando chegava do trabalho e me via distraído sozinho com uma bola no quintal. Nessa hora, um esforço adicional dominava seus músculos e o obrigava e ensaiar alguns desajeitados chutes para me consolar. Lembro com facilidade também dos diversos aromas que o acompanhavam. O cheiro do suor forte após o tenso labor e o aroma do tabaco nos dedos robustos que preparavam o palheiro que serviria para relaxar depois do exagerado esforço diário para garantir o sustento do lar. Há outras recordações, é claro! Porém, são na maioria eventos que nós, enquanto filhos, nos esquecemos ou até desconhecemos pelo que os nossos pais tiveram que passar por nós.

O meu tempo de filho já terminou, já o meu tempo de pai... Me considero um privilegiado por ter recebido a honra de conhecer o significado dessa palavra ainda cedo e em tempo de reconhecer tudo o que meu pai representou para mim. Na ocasião em que entendi o que significava ser pai ele estava ao meu lado olhando comigo através de um vidro transparente a criança que dormia tranquila ainda no berço da maternidade. Era sua primeira neta e minha primeira filha. Todas as nossas diferenças enquanto pai e filho dissiparam-se inexplicavelmente. Um passou a respeitar e honrar ao outro. De novo eu assisti ao meu pai repetindo o que sempre havia feito por mim e entendi que uma força invisível nos obrigava a sermos provedores da nossa descendência custasse o que custasse. Foi incrível ouvir pela primeira vez a palavra "pai" escapando de uma boquinha tão pequena com um sorriso tão agradável. É uma experiência idílica! Depois disso, ouvir essa palavra novamente era como ouvir um mantra ordenando-me a submissão a todas as necessidades das minhas filhas.

Quando eu ainda era infante, meu pai significava uma fortaleza, um ancoradouro, uma rocha onde eu podia me esconder de qualquer coisa que me assustasse. Assim ele se tornou o modelo que eu quis seguir. Hoje eu sei que por trás daquela ideia de fortaleza havia uma fragilidade imensa, uma necessidade de aprovação inimaginável. Filhos passam muito tempo acreditando que gastam muita energia para ganhar o apreço e a aprovação dos pais, quando na realidade é justamente o oposto! Ainda guardo uma pequena lata toda enferrujada, mas que ainda é possível ler a mensagem nela escrita: "PAI, UMA LIÇÃO DE AMOR, UMA LIÇÃO DE VIDA". Vejo essa inscrição várias vezes por dia e em todos os dias e sei muito bem o que ela significa... Significa que ainda levará um tempo para que o meu papel como pai termine e que até que ele seja cumprido, minha missão é tornar-me o justo modelo e a perfeita referência necessária. Não o que minhas filhas esperam de mim, mas o que elas precisam de fato.

Aos pais, não se recomenda esperar recompensas, pois pode ser que ela surja até mesmo na forma do esquecimento. A glória dos pais não está na gratidão, mas sim, na vitória dos seus descendentes. O amor terno e puro de um pai significa a renúncia de si mesmo para ser a referência e não o protagonista. Não mais existimos para "sermos" e sim para cumprirmos com nossa tarefa sagrada. A todos os meus amigos que já são pais e também aqueles que não conheço, mas que se identificam com essas palavras, meus sinceros cumprimentos neste que não é dos mais importantes dias do ano (perde feio até para o dia de Finados!), e minhas recomendações a todos os filhos e filhas dos pais.

Nilson Alves de Souza

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