Últimos Artigos
recent

Um olhar sobre a polêmica do Desafio da Baleia Azul

Desafio da Baleia Azul - Blog do Asno
Pais estão preocupados com o tão temido Desafio da Baleia Azul que já teria levado diversos adolescentes ao suicídio na Rússia e países do leste europeu. No Brasil isso acabou ganhando força devido a estupidez da mídia e da irresponsabilidade dos próprios pais, mais atentos às redes sociais do que aos próprios filhos. Como surge uma espécie de jogo macabro como esse? Como um troço como esse ganha tanta popularidade entre nós? Como podemos agir para evitar a sedução deste sobre nossos filhos? A primeira resposta é mais simples do que as seguintes. Adolescentes passam por diversas crises por conta da transformação a que estão submetidos naturalmente e isso já cria o cenário perfeito para a profusão de ideias ruins em suas cabeças.

É comum até mesmo em adultos uma fragilidade em vários momentos da vida para que a ideia de suicídio encontre menos resistência por acreditarem que não encontram saída para certos problemas que surgem. Um sentimento de grande angústia associado a desesperança tende a enfraquecer nossas barreiras morais contra o pensamento de nos privar do direito a vida. Em alguns casos há também uma mórbida necessidade que alguns sentem de impressionar aos outros com a gravidade de seu dilema. Isso é tão grave que atualmente 3 mil pessoas cometem suicídio por dia no mundo inteiro. De cada 10 pessoas que cogitam a ideia, oito consumam o ato.

O tal Desafio da Baleia Azul apenas escancara o quanto somos imbecis e despreparados para lidar com o tema. Não houve nenhuma premeditação precedente para que surgisse o tal jogo. O que houve foi um oportunismo de alguns sociopatas. Acreditem! Não há adolescentes por trás da origem dessa devassidão. O que será encontrado ao final serão adultos desajustados e com distúrbios sociais gravíssimos, cuja satisfação encontra-se na exploração do sofrimento dos adolescentes. A oportunidade para esses cretinos surgiu em 2015 após o suicídio de uma adolescente russa de nome Rina Palenkova. Ninguém se deu conta dos vastos pedidos de socorro em forma de posts depressivos e alusivos ao suicídio que essa jovem de apenas 15 anos compartilhava em suas redes sociais. A única maneira que Rina encontrava para se sentir integrada a algo era na participação em grupos virtuais, cujo tema era justamente o estado de desespero em que se encontrava. Em princípio tudo ficava circunscrito a uma retroalimentação entre os adolescentes que queriam atenção para o seu estado depressivo. O desastre se deu justamente através da popularização do assunto e da estupidez dos internautas viciados em compartilhar tudo que lhe jogam na fuça sem a mínima inteligência em se apurar fontes e fatos antes.

A posterior exploração sobre o ato de Rina em redes sociais fez surgir algo como o "Wake Me Up At 4:20", ou seja, "Me Acorde às 4:20", também conhecido como "Blue Whale", traduzido em nosso idioma como Baleia Azul. Muitos grupos surgiram a partir daí, sempre aglomerando jovens identificados com as mensagens depressivas compartilhadas. Uma carta falsa de alerta aos pais compartilhada no Facebook (sempre ele!), sobre a ameaça de um suposto suicídio em massa criou a tempestade de compartilhamentos que elevou o tal jogo ao status perigoso que afinal assume. A curiosidade adolescente é natural e necessária ao seu desenvolvimento, mas quanto mais  se polemiza um assunto mais se provoca essa curiosidade. A competência do jogo está justamente na graduação dos seus desafios. Nossa sociedade é incompetente ao explorar essa qualidade nos jovens. Não os desafiamos de maneira positiva para que possam criar e se desenvolver. Ao contrário disso, os largamos a sorte e esperamos que o tempo os amadureça naturalmente.

Isso responde as duas primeiras perguntas: "Como surge o jogo macabro e como ele ganha tanta popularidade entre nós?". A pergunta relevante que resta é "Como podemos agir para evitar a sedução deste sobre nossos filhos?". Primeiro precisamos entender quais são os fatores que levam um indivíduo (adulto ou não) a pensar em suicídio, sempre recordando que para um adolescente esses fatores adquirem uma dimensão extraordinária.

1) Solidão
É possível que uma pessoa, mesmo rodeada por amigos, se sinta solitária. Um dos principais sintomas é o silêncio ou isolamento da pessoa. Geralmente a pessoa que se exclui ou se sente solitária alimenta uma angústia profunda por não se sentir compreendida. É necessário ficar atento aos sinais de isolamento, tais como, baixa auto-estima, tristeza, perda de apetite, desânimo e apatia. A solidão é um sentimento que, caso se torne contínuo na vida da pessoa, pode se tornar uma doença como a depressão. Não há como estabelecer qual é o nível de dor psicológica admitida por um ser humano devido ao seu relativismo. O que pode ser simples e superável para alguns é um tormento intransponível para outros. Nenhum tipo de sofrimento pode ser subestimado.

2) Depressão
Esta é a maior causa de suicídios no mundo. Neste caso, podemos identificar um deprimido quando ele se isola, chora muito, se irrita com facilidade, não sente mais prazer nas atividades que antes lhe agradavam, prefere não falar sobre seus sentimentos, não confia em ninguém e tem pensamentos suicidas. É um estado patológico muito grave e jamais pode ser subestimado. Não existe sofrimento maior ou menor. Desprezar a dor de quem está deprimido é provocar seu agravamento. A depressão é difícil e debilitante, um mal tão agressivo quanto um câncer. Ela pode levar a doenças cerebrais, aumentar o risco cardíaco, o risco de pneumonia, de asma, causa danos a memória, aumenta os hormônios do estresse no corpo, reduz os hormônios sexuais e diminui a libido. Um acompanhamento profissional é recomendado. Certos estados psicológicos e até físicos podem contribuir para uma maior desorganização ou desconforto emocional, levando ao estado depressivo.

3) Problemas conjugais e de relacionamento
As brigas recorrentes com os pais ou falta de amparo deles, término de um relacionamento, discussões frequentes com o(a) parceiro(a), divórcio e separação podem levar uma pessoa ao suicídio. Na maioria das vezes, para estas pessoas, uma relação em que se investiu tempo e toda uma carga emocional é difícil de ser desfeita. A separação ou discussões constantes levam à tristeza e depressão, elevando o risco para cometerem suicídio. Mais uma vez, a graduação de dor psicológica nesse caso é diferente para diferentes tipos de pessoas e não se pode ignorar a gravidade. Há casos de extrema dependência em relações, cuja ruptura certamente conduz a um estado depressivo.

4) Dificuldades financeiras ou profissionais
Dificuldades financeiras, problemas no trabalho, desemprego e perda do status socioeconômico são outros riscos para o suicídio. A riqueza e o poder são volúveis e instáveis, e a qualquer momento estamos sujeitos a perder dinheiro, um emprego e a riqueza que existia antes. São fatores que acabam por desencadear solidão, perda de apoio social, crises familiares e sensação de impotência, agravando assim tendências autodestrutivas, abuso de álcool e outras drogas e transtornos mentais, como ansiedade e depressão.

5) Bullying
Diante do bullying, a pessoa passa a ter ansiedade, depressão e pânico. E em certos casos, até a utilizar álcool e outras drogas. Seu medo é constante por sofrer ou tentar evitar esses atos de violência, levando à tristeza e pressão por receio de contar aos familiares e amigos seu sofrimento.

6) Problemas na adolescência e início da vida adulta
A taxa de suicídio entre adolescentes e jovens adultos está aumentando. A incidência de suicídio entre jovens de 15 a 24 anos quadruplicou durante as últimas quatro décadas. Adolescentes suicidas tendem a abandonar os estudos ou a ter problemas de comportamento na escola, embora alguns sejam estudantes talentosos que se sentem pressionados para serem perfeitos e os melhores da turma.

7) Luto ou perdas afetivas
Perder um familiar querido (pais, irmãos, cônjuge, filhos) muitas vezes faz certas pessoas cometerem suicídio. Elas acham que podem ter perdido sua única fonte de apoio. Perder alguém importante é deixar uma lacuna vazia em nossas vidas, uma pessoa que não estará mais presente. Mas para muitas pessoas é comum pensar em cessar a vida, uma vez que estão presenciando prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalorização de si, ideação suicida, e até sintomas psicóticos e retardo motor.

8) Abuso de drogas
Estudos mostram que pessoas que cometeram suicídio quase 60% abusavam de drogas e 84% de álcool e outras drogas. O abuso de drogas faz com que estas pessoas fiquem deprimidas e se matem ou elas recorrem às drogas como uma forma de lidar com a depressão e se matam quando as drogas já não ajudam mais. Porém, em muitos casos, o abuso de drogas parece ter aparecido antes de problemas psicológicos. Jovens, com menos de 30 anos, usuários de drogas que cometem suicídio tem uma frequência maior do que a prevista de conflitos interpessoais intensos ou de perda de um cônjuge ou parceiro nas semanas que antecedem o suicídio.

9) Timidez
Pode parecer impossível alguém tímido pensar em suicídio. Porém, a timidez é um dos fatores de risco para uma pessoa cometer suicídio. Não se trata aqui da timidez normal e sim da patológica, conhecida pelos profissionais de saúde mental como Transtorno de Ansiedade Social. Esta timidez patológica limita a vida profissional, social e afetiva. Há um desconforto e inibição que estas pessoas apresentam em seus comportamentos, como: medo intenso, desproporcional e sem motivo aparente, círculo de amizades restrito, evita tudo que é novo, tem rotina rígida e sente grande necessidade de aprovação dos outros. E tudo isso afeta o prazer de viver, acabando por pensar em suicídio para escapar e não saber como ultrapassar estes obstáculos.

Pessoas se suicidam por influência?
A primeira constatação óbvia é que o jogo não leva ninguém ao suicídio! A primeira vez que ouvi que alguma coisa poderia induzir alguém ao suicídio foi quando li a respeito de um jovem que teria se suicidado após ouvir a música "Suicide Solution", quinta faixa do álbum “Blizzard of Ozz”, lançado em 1980, escrita pelo guitarrista Randy Rhoads, o baixista e letrista Bob Daisley e Ozzy Osboune. A canção fala sobre a tragédia do álcool e está relacionada com Bon Scott, vocalista do AC/DC que morreu em decorrência de um coma alcoólico. Ao contrário do que muita gente pensava na época, o título não faz referência ao suicídio como sendo a solução para qualquer tipo de problema, e sim, faz referência ao álcool como substância líquida. A interpretação correta seria “Mistura Suicida”. Em 12 de janeiro de 1986, uma ação judicial contra Osbourne foi ajuizada pelos pais de John McCollum, o adolescente deprimido que cometeu suicídio supostamente depois de ouvir "Suicide Solution". Ozzy se livrou da acusação por falta de provas na responsabilidade dele pela morte do adolescente.

Depois disso vi e ouvi várias vezes pessoas associando suicídios à músicas, filmes, seriados ou livros. Besteira! Há condições pré-estabelecidas nos suicidas que os levam a cometer o ato extremo e o podem realizar após ler o mais belo dos poemas ou ouvir a mais sublime das sinfonias. Antes de atribuir a este ou aquele elemento o que deveríamos fazer é buscar as causas do estado psicológico em que o suicida se encontra.

O que fazer ao saber que uma pessoa próxima pensa em suicídio?
A tentativa de suicídio é um grito por socorro. Ela é motivada pelo desejo de comunicar sentimentos de desespero e mudar o comportamento de outras pessoas. Alguns agravantes para os adolescentes estão ligados ao fato de receberem pouco afeto parental, terem pais alcoólatras, pais divorciados ou separados, o enfrentamento com novos problemas, tentar se sobressair em ambientes competitivos quando a competição é muito mais forte do que a sua preparação, indecisões quanto à escolhas, solidão causada pela ausência dos velhos amigos e ansiedade em relação aos novos. Em todos os casos a melhor maneira de lidar com o problema é o diálogo e a sugestão para que a pessoa procure ajuda profissional, encaminhando-a para uma avaliação psiquiátrica e psicológica.

Nenhum comentário:

1 - Qualquer pessoa pode comentar no Blog “Um Asno”, desde que identifique-se com nome e e-mail.
a) Em hipótese alguma serão aceitos comentários anônimos.
b) Não me oponho quanto à reprodução do conteúdo, mas, por uma questão de responsabilidade quanto ao que escrevo, faço questão que a fonte seja citada.

2— Não serão aceitos no Blog “Um Asno” os comentários que:
1. Configurem qualquer tipo de crime de acordo com as leis do país;
2. Forem escritos em caixa alta (letras maiúsculas);
3. Estejam repetidos na mesma ou em notas diferentes;
4. Contenham insultos, agressões, ofensas e baixarias;
5. Reproduzam na íntegra notícias divulgadas em outros meios de comunicação;
6. Contenham links de qualquer espécie fora do contexto do artigo comentado;
7. Contenham qualquer tipo de material publicitário ou de merchandising, pessoal ou em benefício de terceiros.

Tecnologia do Blogger.