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O Eterno Destino dos Lúcidos: Alexandre de Moraes e Rui Barbosa em Oposição ao Delírio

Alexandre de Moraes e Rui Barbosa | Blog do Asno

Escrever em um tempo em que a escrita e a razão andam fora de moda equivale ao adágio "enxugar gelo", mas é preciso... A humanidade carrega, desde seus primórdios, uma doença silenciosa, uma patologia de base que se manifesta em surtos cíclicos: períodos de lucidez intercalados por convulsões de intolerância, irracionalidade e cegueira coletiva. É como se, por mais que avançássemos em ciência, tecnologia e cultura, estivéssemos condenados a repetir um mesmo destino: o da demência social.

A História está repleta desses surtos. Houve a peste negra, que dizimou milhões na Europa medieval e que foi agravada pela ignorância e pela recusa em compreender o invisível. Houve a Inquisição, que queimou vivos aqueles que ousaram iluminar a escuridão. Houve o nazismo, delírio coletivo travestido de ideologia, que quase arrastou o mundo para o colapso. Sempre a mesma lógica: multidões que preferem as sombras ao sol, a mentira à verdade, o mito ao logos.

Platão já havia nos advertido com a alegoria da caverna: a maioria dos homens permanece acorrentada diante das sombras, convencida de que elas são a própria realidade. E, quando alguém ousa sair e enxergar a luz, torna-se alvo da ira dos demais. O destino dos lúcidos sempre foi a incompreensão, o silêncio da solidão e, não raro, o martírio.

O Brasil e sua caverna contemporânea

A história humana parece ser cíclica não apenas nos fatos políticos, mas sobretudo nas doenças que afligem a mente coletiva. Existe algo de patológico em nossa espécie: uma resistência persistente ao esclarecimento, uma preguiça intelectual que nos torna reféns da ignorância e, mais grave, uma seletividade mórbida que leva as pessoas a buscar apenas informações que confirmem seus preconceitos e vieses. É uma enfermidade social que, ao se acumular em ondas, nos empurra para abismos inevitáveis.

Essa demência coletiva não é nova. Já se manifestou em surtos de intolerância religiosa, em guerras fratricidas, em ditaduras que se alimentaram do medo e da cegueira popular. O que muda, ao longo dos séculos, são os cenários e os instrumentos: no passado, panfletos e discursos inflamados; hoje, algoritmos e redes sociais que potencializam a estupidez com velocidade geométrica.

O Brasil, infelizmente, não está imune a essa patologia. Muito pelo contrário: tornou-se palco privilegiado de seus efeitos mais grotescos. O 8 de janeiro de 2023 foi a evidência mais cristalina disso: multidões tomadas por delírios conspiratórios vandalizaram o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, convencidas de que destruíam símbolos para salvar uma democracia que, paradoxalmente, estavam atentando contra.

A cena foi de uma demência coletiva sem precedentes, um surto de histeria política que ficará gravado em nossa memória como ferida aberta. Mas, esse espetáculo dantesco não terminou ali. Mais recentemente, no 7 de setembro de 2025, uma massa voltou às ruas, desta vez para exibir orgulhosamente uma bandeira gigante dos Estados Unidos, como se estivéssemos sob tutela imperial e como se esse gesto fosse libertador.

O gesto afrontoso não apenas escandalizou o país, mas também expôs de forma humilhante a incapacidade de muitos brasileiros de enxergar que o império norte-americano não nos protege — nos subjuga, nos pressiona, nos impõe sua agenda econômica e política. Nada mais simbólico de nossa cegueira: celebrar justamente aquele que nos impõe sanções, pressões econômicas e submissão política. Foi uma afronta à soberania, um ato de idolatria patológica que transformou a praça pública em um teatro de alienação.

Esse comportamento não é mera ingenuidade. É o efeito direto da patologia que mencionei: a recusa em buscar informação verdadeira, a preguiça de interpretar a realidade, o desejo mórbido de permanecer no conforto das ilusões. É a cegueira voluntária que prefere o mito à razão, a fábula à ciência, a bandeira estrangeira à defesa da própria soberania.

Não se trata apenas de ignorância. Trata-se da recusa deliberada em encarar a realidade. É a mesma patologia de sempre: preferir a sombra confortável da caverna à luz dolorosa da verdade.

Rui Barbosa e Alexandre de Moraes: os incompreendidos

Não é a primeira vez que a lucidez é punida pela ignorância coletiva. Rui Barbosa, ainda em vida, foi vaiado, derrotado, tratado como excêntrico e vaidoso. Suas denúncias contra arbitrariedades eram recebidas como incômodos inconvenientes por uma sociedade que preferia o silêncio à verdade. Morreu antes de ver reconhecida a grandiosidade de sua obra, mas o tempo o consagrou como o “Águia de Haia” e patrono da justiça e da liberdade.

Hoje, a História repete sua ironia. Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, é alvo de insultos, campanhas difamatórias, ameaças e vilanização pública. Justamente porque ousa enfrentar as sombras, sustentar os pilares da Constituição e erguer muralhas contra os ataques à democracia. Sua coragem consiste em sustentar princípios mesmo quando isso significa enfrentar o ódio de massas inflamadas pelo delírio.

Ambos, Rui e Moraes, são exemplos de como a História castiga os lúcidos em vida e os canoniza em retrospecto. O preço da lucidez, em todos os tempos, sempre foi a solidão. Rui Barbosa pagou esse preço. Moraes paga o seu agora. Ambos encarnam a sina dos que ousam resistir à febre da ignorância coletiva.

As redes sociais: o novo hospedeiro da patologia

Mas há um agravante em nossa época. Se no início do século XX Rui Barbosa enfrentava a limitação dos jornais e discursos públicos, Alexandre de Moraes enfrenta o câncer da nossa era: as redes sociais. O que antes era apenas surto, agora tornou-se pandemia. A tecnologia, que poderia ser instrumento de emancipação, converteu-se em acelerador de demência coletiva. As redes não apenas divulgam boatos; elas criam realidades paralelas, cultivam bolhas impermeáveis à razão e alimentam um ecossistema onde a mentira tem mais valor de mercado do que a verdade.

Vimos isso na pandemia da Covid-19: campanhas antivacina, teorias conspiratórias, negação da ciência.  As redes sociais se tornaram hospedeiras perfeitas dessa patologia, multiplicando a ignorância em escala geométrica. Assistimos à mesma lógica nos atentados de 8 de janeiro e nas manifestações do último 7 de setembro. Aquilo que poderia ser uma biblioteca universal converteu-se em fábrica de ilusões. Ali, boatos viram verdades instantâneas, teorias conspiratórias se transformam em dogmas e multidões inteiras passam a confundir a mentira repetida com a própria realidade. O cérebro humano, propenso ao autoengano, encontrou nos algoritmos um fertilizante para seus delírios mais perigosos.

Entre a peste e a esperança

É nesse contexto que a postura de Alexandre de Moraes se torna ainda mais emblemática. Ele não apenas enfrenta adversários políticos; enfrenta uma sociedade contaminada por delírios. Sua figura se tornou alvo de ódio justamente porque representa o último bastião de racionalidade num país tomado pela febre da ignorância.

Ser herói, afinal, não é conquistar aplausos fáceis, não é agradar à massa— é suportar o ódio dela em nome de algo maior. É resistir e segurar a muralha quando todos os outros já fugiram. É proteger princípios mesmo contra a maré. Alexandre de Moraes emerge como uma figura paradoxal: odiado por multidões, mas sustentáculo de uma ordem que, sem ele, já estaria corroída. Ele representa, de certo modo, o médico solitário em meio a uma peste: incompreendido, insultado, chamado de autoritário, mas ainda assim disposto a resistir.

O veredito do tempo

A História é severa, mas justa. O gigantismo de Rui Barbosa foi desperdiçado em sua vida, mas reverenciado após sua morte. Alexandre de Moraes será, sem dúvida, lembrado como aquele que ousou resistir quando a febre da ignorância coletiva transformou cidadãos em vândalos e patriotas em servos de bandeiras estrangeiras. Essa mesma História tem sido sempre implacável com os visionários em vida e generosa com eles na eternidade. Rui Barbosa, que morreu sem ver reconhecida a amplitude de sua obra, hoje é reverenciado como um dos maiores juristas e estadistas brasileiros.

Alexandre de Moraes, hoje difamado e atacado, um dia será lembrado como aquele que, quando a febre da ignorância tomou conta da sociedade, ousou erguer uma muralha ainda mais sólida para proteger a democracia. Talvez demore décadas para que as feridas abertas pela desinformação digital cicatrizem. Talvez ainda veremos novas convulsões sociais antes da lucidez se restabelecer. Mas o tempo, juiz inexorável, fará a triagem.

E, quando a poeira baixar, quando as sombras da caverna se dissiparem e os ecos da irracionalidade não passarem de notas de rodapé, restará apenas a figura do homem que ousou resistir. E, talvez, no futuro, se escreva:

“Na época da febre da ignorância coletiva, houve um homem que enfrentou a escuridão e protegeu a luz. Seu nome era Alexandre de Moraes.”


Um comentário:

  1. Delegadodaporratoda10 setembro, 2025 11:59

    Suas publicações eram ótimas, mas vem perdendo a imparcialidade

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