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8 de Março - Hoje não posso comemorar!

8 de Março - Dia Internacional da Mulher - Um Asno
Há exatamente um ano escrevi o seguinte post (aqui). Meu ponto de vista não se alterou desde então. Queria poder escrever algo que homenageasse as mulheres em referência ao dia 8 de março. Queria que a mensagem fosse positiva e estimulante... Mas não posso! Não posso por que não há nada que deva ser comemorado, especialmente neste dia. Há exatamente 157 anos, no dia 8 de março de 1857, 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano e covarde. Tudo por que se atreveram a reivindicar melhores condições de trabalho. Imaginem vocês que o abuso foi tão exagerado que elas chegaram até a exigir uma redução na carga diária de trabalho para dez horas. Olha só quanta audácia! A jornada de trabalho delas era apenas de 16 horas diárias! Ainda lhes sobravam 8 horas para se dedicarem as suas tarefas domésticas e a seus maridos perfeitos! Dormir era para as fracas, minhas filhas! Tem mais! Chegaram ao disparate de exigir equiparação de salários com os homens por que elas recebiam menos de um terço do salário deles para executar o mesmo tipo de trabalho. Não foi só isso! Também acharam que tinham o direito de exigir tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. Ora bolas! O que elas pensavam que eram!!??

Mas o mundo foi justo com elas... Em 1910 decidiram que aquele dia seria escolhido para ser o "Dia Internacional da Mulher". Mas, é claro, apenas em 1975 a data seria oficializada pela ONU. Ah, mas a intenção não era a de comemorar e sim a de discutir o papel da mulher na sociedade atual e diminuir o preconceito e a desvalorização da mulher. Mas como? Se as próprias mulheres se esquecem do sacrifício que suas precursoras tiveram de realizar para que elas tivessem o mínimo de reconhecimento perante o mundo. Vamos esquecer as sufragettes, vamos esquecer também as contribuições de Simone de Beauvoir, Madame Marie Curie, Themistoclea, Émilie du Châtelet, Maria Quitéria, Lucrécia Mott, Ana Néri, Chiquinha Gonzaga, Helen Keller, Bertha Lutz, Louise Otto, Maria da Penha e uma plêiade interminável de outros nomes que enaltecem o gênero feminino e ofusca e envergonha o machismo teimoso (machismo feminino, principalmente).

Hoje se fizermos uma busca por imagens no Google sobre o dia 8 de março, aparecerão milhares de cartões com mensagens e homenagens a mulher. Pela vaidade pode até ser que isso funcione e as satisfaça, mas não corrige milênios de engodo machista. Há mais de dez mil anos foi a mulher quem garantiu a sobrevivência da raça humana introduzindo as primeiras técnicas que principiariam a domesticação dos animais e o surgimento da lavoura. Essa vantagem tecnológica libertou os homens das obrigações perigosas como a caça e o nomadismo e aprisionou as mulheres a ilusão de segurança que eles passariam a oferecer. Até hoje muitas mulheres buscam no parceiro um porto seguro para lhes proteger e amparar. Conheci várias mulheres espetaculares e com uma grandeza superior a do mais nobre macho que esse planeta já conheceu. Mas nunca conseguiram se livrar de fato de sua "programação" feminina.

Garotos ainda são educados como homens por suas mães e garotas continuam sendo educadas... para ser mães! Como comemorar um dia que continua sendo uma violência contra todas as mulheres? Embora várias filósofas tenham melhorado as ideias dos homens, ainda é a tese platônica difundida no Timeu, segundo a qual a mulher representa uma forma inferior de humanidade, que é repassada continuamente, inclusive através da educação que as mães impõem às filhas. Isso não mudou com os grandes pensadores como Freud! Como poderia ser diferente? Nenhum dos construtores dos pilares do pensamento vigente deu o devido valor as contribuições das mulheres. Como comemorar avanços se a mensagem principal que vale na maioria dos lares ainda é aquela interpretada por falsos inspirados nos versículos da Bíblia?

As 130 operárias que morreram no dia 8 de março não estavam preocupadas com o peso. Não se ocupavam em escolher a melhor maquiagem, academia ou roupa para agradar ao parceiro que maior segurança lhes oferecessem. Queriam apenas que o mundo as tratasse um pouco melhor. Que os homens as reconhecessem como seres divinos que lhes deram mais do que as vidas e o tempo de dedicação absoluta. Queriam que não fossem tratadas como escravas. Mas todos os anos elas retornam como um símbolo de algo que de fato nunca foi alcançado plenamente. A independência feminina, a autonomia e sua superioridade sobre o macho em diversos aspectos nunca foi contemplada por completo. Ainda hoje se uma mulher escolhe ser autônoma em sua escolha de vida, são as mulheres as primeiras a criticarem. Aconteceu com Madame Curie, aconteceu com a Xuxa e continua acontecendo todos os dias ao nosso redor. Basta examinarem os comentários sobre aquela mãe solteira, aquela mulher que teve mais de um marido ou namorado, ou aquela empresária que não gasta o tempo com relacionamentos. São biscates, putas, ou (para muitos) algo pior: lésbicas! Lamento ter de registrar isso, mas o preconceito contra as mulheres nasce primeiro entre elas mesmas.

O vídeo abaixo é um desabafo do jornalista Luis Carlos Prates. Serve para, ao menos, provocar uma reflexão.

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