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A culpa também é dos Empresários! Mais deles, aliás...

Paulo Skaf, presidente da FIESP - Um Asno
Profissionalmente, me aventurei por breve período nos segmentos comercial, de serviços e até no artesanato. Porém, foi na indústria que passei a maior parte da minha vida e sou muito grato pelas variadas experiências em diferentes pólos. Tenho grande afeição pelos empreendedores que optam pelas veredas da industrialização de produtos de quaisquer naturezas, mas não posso deixar de notar sérios equívocos que essa classe de empreendedor tem cometido no decorrer da história do Brasil, sobretudo, na última década. Li um artigo assinado por Paulo Skaf, presidente da FIESP e não posso deixar de comentar suas palavras segundo minha ótica. Vou transcrever o texto original em destaque e acrescentar meu ponto vista na sequência. Segue o texto de Skaf:

A história da indústria no Brasil é uma história de ação, de coragem e de superação de obstáculos. Com muito esforço, o país construiu, ao longo de mais de 50 anos, uma indústria forte e diversificada. Lamentavelmente, as conquistas do setor industrial brasileiro estão hoje ameaçadas pela perda de competitividade, pela burocracia, pelo peso dos impostos e dos juros altos, pelo baixo crescimento da economia. Vivemos em um ambiente negativo, com redução contínua do peso do setor no PIB nacional. O crescimento sustentável no país, que significará mais produção, emprego e distribuição de renda, não ocorrerá sem a necessária recuperação da indústria e de sua capacidade competitiva. Não há no mundo experiência de país que se tornou rico e desenvolvido sem uma indústria fortalecida.
Começo pelo final... Concordo que, na história, toda experiência que veio a contribuir com o desenvolvimento de uma nação veio enriquecida pelo fortalecimento da indústria, porém, antes disso, o foco na tecnologia! A recuperação da indústria é essencial, mas, para isso, também é necessário a recuperação de certos valores dos empresários desse segmento. A maior ameaça hoje encarada pela indústria não está visível a todos como os fatores descritos por Skaf. A dinâmica do empreendedor industrial mudou nas últimas décadas. Indo em direção completamente oposta a percebida nas biografias e perfis de empreendedores de outras nações, nossos empresários, com raras exceções, ainda estão confusos sobre o que é ser empreendedor e parecem muito distantes de ter sua própria identidade definida. São pessoas que se renderam ao modelo paternalista, clientelista, corporativista, burocrata, moroso e ineficaz. Culpam o estado, culpam a mão de obra, culpam a trajetória da economia, mas não fazem a lição de casa e, tampouco executam uma mínima autocrítica. São os maiores responsáveis pela situação atual da indústria no país.

No Brasil, o crescimento do setor industrial é hoje um passaporte para o desenvolvimento econômico e social, e a indústria tem enorme importância no avanço de outros setores. Só não vê isso quem não quer. Não se pode desconhecer, por exemplo, o importante papel da indústria de transformação como maior dinamizadora da economia: para cada R$ 1 produzido por ela, são gerados mais R$ 1,13 de produção pelos demais setores. O setor industrial é o maior realizador de investimentos produtivos do setor privado, respondendo por cerca de 30% do total investido. Nós, da indústria, somos também os maiores geradores de massa salarial do setor privado e oferecemos os melhores e mais qualificados empregos da economia. Respondemos por mais de 22% da massa salarial total do emprego formal, equivalente a R$ 215 bilhões em 2013. O ganho salarial médio dos nossos trabalhadores e sua taxa de formalização --trabalhadores com carteira de trabalho assinada e cobertos pelo seguro social-- são também maiores do que os do restante da economia.
Beleza! Não há dúvidas sobre os dados mencionados por Skaf, mas... Espia só!! É também na indústria, atualmente, que se concentram as maiores distorções em termos de equilíbrio entre produtividade e custos! Por que, por exemplo, nos últimos anos houve real ganho na renda do trabalhador (pequeno, mas real), porém a produtividade declinou em escala muito desproporcional? Não dá para entender! O trabalhador passou a ganhar mais, contudo, não houve ganho na produtividade. Pelo contrário, a produção despencou em volume chocante! A culpa é do governo e suas políticas sociais? Nem a pau! A culpa é dos empresários e, sobretudo, da própria FIESP que fez a leitura completamente errada no início do governo dito progressista e não alertou aos empresários para a necessidade de remodelação do formato da indústria no Brasil. Perdemos mais de uma década e não promovemos a revolução que poderia ser a grande diferença no melhor momento econômico que o país viveu quando nossos termos de troca favoreciam o crescimento da economia.

Entre os grandes setores empregadores, é a indústria que paga os melhores salários, conforme aumenta a escolaridade do trabalhador. Isso tudo sem mencionar a quantidade relevante de empregos indiretos criados e mantidos na economia. Esses empregos são resultado da interação de outros setores com a atividade industrial, que compra insumos dos setores agrícolas, materiais da indústria da construção e contrata numerosos serviços. Em um ciclo virtuoso de crescimento, a instalação de empresas industriais atrai outras companhias, criando e fortalecendo as cadeias produtivas. Quanto maior o adensamento e a complexidade dessas cadeias, maior será sua interação com os próprios setores industrias e com as outras áreas da economia. A indústria, com sua complexidade e com o encadeamento das diversas etapas de produção, abriu também grande espaço às inovações, que possibilitam transferência de conhecimento, desenvolvimento de novas tecnologias e modernização. É hoje a principal produtora e difusora de inovações no setor privado, responsável por 70% dos gastos com pesquisa e desenvolvimento e 77% dos demais gastos com inovação.
Nem sempre é a indústria quem paga os melhores salários! Conheço cidades que possuem uma economia nanica justamente devido ao tipo de segmento preponderante de indústrias locais, mas não vem ao caso. A parte mais importante desse trecho refere-se a "transferência de conhecimento, desenvolvimento de novas tecnologias e modernização". Cadê?? A quem será que Skaf está se referindo? iniciativas de algumas grandes empresas, cujos investidores externos tem proporcionado tal experiência? Foi justamente onde mais se pecou na última década! Não há inovação, não há pesquisa (!!) e não existe investimento no capital intelectual das empresas. Até a própria FIESP está mais focada na "produção" de mão de obra com qualificações que não agregam nada na matriz de competências exigível no corpo de funcionários de uma indústria. Sem falar que as universidades também não têm contribuído com o fornecimento de "cérebros de obra". Observem a experiência na formação técnica muito favorecida nos últimos anos. Boa, em parte... A grande maioria (mas, maioria mesmo!), das indústrias ainda enfrenta sérios problemas de desperdício, de ineficiência, baixíssima produtividade, qualidade questionável e absurdo despreparo para gerir tributos e metas.

As indústrias do país são a mais importante fonte de arrecadação tributária, contribuindo com 1/3 do que é recolhido, apesar de responder por apenas 13% do PIB. Carga tributária excessiva, burocracia, custos elevados, dificuldades de infraestrutura, crédito caro, juros altos e o câmbio vêm estrangulando a capacidade produtiva e a competitividade da indústria brasileira. Apesar da nossa tenacidade, perdemos espaço nos mercados e estamos sendo derrotados em uma corrida mundial. Nessa maratona, disputada por atletas leves e rápidos, o produto manufaturado brasileiro é um competidor que carrega nas costas uma mochila cheia de pedras. Trabalhar na retirada das pedras do caminho para recuperar a competitividade do país não é pedir favores. É garantir a isonomia. Livre de suas amarras, o setor industrial pode ser motor do crescimento da economia na decolagem rumo a um país mais desenvolvido e mais justo para todos os brasileiros. A pauta da indústria é a pauta do Brasil.
Tá aí... É o discurso padrão entre os empreendedores ultimamente! Se o presidente da Federação das Indústrias não se envergonha de justificar a moleza do setor desse modo, o que esperar dos empresários? É o discurso verdadeiro de um presidente de sindicato! Quando a China ainda não era ameaça para os produtores brasileiros, ninguém pensou em trabalhar soluções para a imensa carga tributária do nosso país. Ele existe há bastante tempo e não deixará de existir num horizonte muito próximo. Aliás, esqueçam, ela não deixará de existir! Gerenciem-na! Lembremos do que significa a palavra "empresa"... Antes de ser uma organização onde se planeja e administra recursos, é um contrato social onde pessoas são organizadas para realizar algum objetivo. Ação é o verbo! Então que o empreendedor faça e não aguarde que venham os administradores da vez lhes dizer que irão retirar as pedras do caminho. Não há pedras no caminho, senão o próprio comodismo soporífico empresarial. Empreender não é rotina, senhores! Continuem segurando o pires e aguardando que o mundo lhes favoreça com suas migalhas! Em outros tempos, empreendedores mostravam a direção aos governantes, hoje esperam que o governo limpe o caminho... É dose!

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