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"Política, Religião e Futebol" devem ser discutidos!

Fanatismo - Blog do Asno
Esta é a primeira vez que eu escrevo sem a intenção de que meu teto seja meramente um registro pessoal. Nietzsche disse que "O fanatismo é a única força de vontade acessível aos fracos". O fanatismo já matou mais gente do que todas as moléstias do mundo em todas as épocas. Há toda espécie de fanatismo, como aquele que se mostra atualmente pelas celebridades, mas minha atenção se resume mais a três tipos. Fanatismo, essa debilidade mental, sempre estará presente em todas as culturas e é por isso que eu acuso publicamente todos os partidos políticos, todas as religiões e todos os times de futebol de serem responsáveis por seus fanáticos. Tive uma boa educação moral e cívica. A maior parte dela devo a minha família e não a escola. Mas, uma péssima orientação foi passada de bisavô/avô para pai/mãe e sucessivamente. Um adágio asqueroso e 100% de origem tupiniquim marcou a minha infância e a dos meus primos: "Política, Religião e Futebol não se discute". Era bem desse modo e ponto final. Qualquer conversa em família que tendesse para algum desses temas era logo descontinuada para evitar dissabores. Obviamente, considerando o grau de ignorância de todos, o conselho era prudente. 

Porém, outra recomendação mais coerente poderia ter sido passada a todos nós. O conselho bem poderia ter sido este: "Deve-se entender a fundo a política, conhecer as religiões e compreender a paixão pelos esportes para, enfim, contribuir e também se desenvolver melhor em sociedade". Não há absolutamente nada de sábio em se evitar o debate! Não há nada de sábio e absoluto na tal "sabedoria popular". Aliás, estes assuntos são geralmente silenciados com arrogância! Não é raro serem origem de polêmicas, discórdias e separações. A razão disso é que todos nós somos ávidos por externalizar nossas convicções acerca de tudo, sobretudo quanto a esses temas. Então por que os desentendimentos surgem? Por que não há reflexão sobre nenhum deles. Simples desse modo! Em fevereiro de 2013 (aqui), escrevi um texto onde deixo bem clara minha opinião sobre o futebol. Não tenho nada contra o esporte. Ao contrário! Do meu ponto de vista atividades esportivas deveriam ser estimuladas, promovidas e financiadas desde muito cedo e obrigatoriamente dentro das escolas, sobretudo com carga horária maior e modalidades variadas! Fico possesso ao saber que minha filha menor estuda em tempo integral e as opções na Educação Física são capoeira (!!!!), futebol (para os meninos!!), o mínimo de vôlei, basquete, queimada (!!), e outras bobagens, cuja justificativa pedagógica não satisfaz a realidade! Nada de Ginástica Olímpica, Natação, Atletismo, etc.

Ah! Mas eu estou desatualizado com as novas metodologias e didáticas ultramodernas... Pode até ser, mas ainda acho que ocupamos a rabeira nos esportes individuais por que não o incentivamos desde cedo... Mas... Somos uma nação colmeia!!! Não gostamos dessas excentricidades individualistas, não é?!! Quando não entendemos os limites fabricamos a mediocridade. Particularmente, considero extraordinário conhecer como as pessoas são capazes de se superar quando na condição de atletas e isso em qualquer modalidade, inclusive, o futebol. O debate sobre as competições é saudável por que favorece o desenvolvimento da sociedade e a socialização entre as pessoas. A ignorância sobre o real sentido da prática do esporte como competição e até como negócio gera o comportamento símio que somos obrigados a ver toda vez que há um "clássico" no futebol brasileiro. Futebol tornou-se investimento familiar! Pais alimentam expectativas e ilusões quando colocam seus filhos nas tais escolinhas de futebol. Ao transformar o esporte numa indústria lucrativa para ilusões, abriu-se um campo todo novo para ser explorado até por quem nada entende ou nenhuma afinidade possui com o esporte em si. Basta observar os escândalos com a FIFA e a CBF. O pior de tudo é que não há surpresa alguma nisso e as pessoas nem se afetam mais com escândalos.

O futebol é um tema que produz identificação. Ao mesmo tempo em que satisfaz necessidades individuais como o desejo de estar inserido ou pertencer a um grupo, classe ou categoria. Do mesmo modo ocorre com a religião. Muitas pessoas mudam de religião ao longo da vida porque pensaram a respeito, porque entenderam que a maneira de vivenciar seu universo espiritual deixou de fazer sentido num determinado momento e encontraram outra forma que lhe era mais conveniente ou convincente de compreender Deus e a vida espiritual. Mudam de religião porque se sentem mais confortáveis num novo sistema de crença. Quando escolhemos não seguir os dogmas de uma religião não quer dizer necessariamente que não se possamos viver a espiritualidade. Eu sou uma das muitas pessoas que acreditam em Deus ou têm uma forma particular de entender Deus sem que tenhamos de fazer parte de um grupo religioso. Até mesmo o ateísmo é um caminho para se discutir Deus, por mais paradoxal que isso possa parecer.

A escassa reflexão sobre nossa própria existência na divindade tem causado todos os problemas originários na interpretação religiosa. Há protestantes fundamentalistas e eu acuso as religiões protestantes por esse desvio do seu propósito, há católicos extremados e eu acuso a Igreja Católica por sua responsabilidade nisso e há muitas outras designações, como o islamismo, que favorecem o surgimento de bárbaros como o Estado Islâmico por terem uma visão temerária sobre o criador. Os muçulmanos desaprovam quando o EI promove uma morte por apedrejamento contra uma mulher adúltera por que não foram preenchidos todos os requisitos para tanto, mas toleram a ideia de apedrejamento se estes forem cumpridos! Desta tênue visão para algo mais extremista é um passo muito curto. São todas as religiões as principais responsáveis por seus rebanhos e, pois, com essa autoridade são obrigadas a não permitir que ocorram desvirtuamentos de seus preceitos. É fácil compreender como funciona essa influência, pois, somos animais políticos e não há diferença de mecanismos psicológicos quando observamos o comportamento das pessoas quanto a ideologias políticas.

Temos visto nas redes sociais e em grupos de amigos, cada vez com mais frequência, verdadeiros rachas de ideias e posicionamentos que têm culminado em brigas e até em rompimentos de amizade. Este é um bom exemplo da confusão que se instala entre discutir ideias e discutir pessoas. Não aprendemos como alcançar o equilíbrio e a sensatez num embate de ideias sem partir para ofensas ou sem desqualificar nossos interlocutores. Mais uma vez, prejuízo por não sabermos como debater ideias e aprender com elas. Outra vez o velho adágio causando estragos na formação cultural de nosso povo. O que é certo ou errado quanto a qualquer desses três pilares fundamentais causadores de conflitos? O que é correto ou bom para uns invariavelmente não o é para outros e onde reside a razão? É muito fácil conviver quando há identidade de opiniões, mas o verdadeiro exercício de civilidade, generosidade e aceitação reside na compreensão de que somos todos mestres uns dos outros. Não é preciso concordar com uma opinião que é diferente da minha, não é preciso abrir mão de minhas convicções. Aprender a ouvir, refletir e analisar sem preconceitos permite discussões saudáveis e produtivas que promovem o crescimento e a evolução de nossa sociedade.

Nos enganamos quando acreditamos que ao não discutir esses assuntos estamos respeitando a posição alheia. Isso já recebeu nomenclatura específica... Chama-se Hipocrisia! Ao impedirmos o debate afirmando que "cada um tem a sua opinião e não existe aquela que é a melhor”, aniquilamos o resultado fecundo oriundos do ato de discutir racionalmente os prós e os contras de cada opinião. O prejuízo de as pessoas não discutirem as coisas é que elas não refletem sobre o assunto, não recebem críticas e informações novas das outras pessoas e também não passam para frente suas próprias críticas e informações novas. Falta-nos a descoberta do óbvio! Não existe "certo" ou "errado" antes que se construa um debate sobre o assunto. E, fatalmente, se descobre muitas vezes que aquilo que acreditávamos ser o certo, passa a ser o errado depois de profunda análise. Só assim se constrói uma sociedade menos agredida e menos agressiva. Aos religiosos, partidos políticos e organizadores de torcidas, um conselho... Reflitam com a máxima urgência sobre a responsabilidade que possuem sobre cada cagada que algum fanático deslocado pratica contra o mundo livre.

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