Tragédia na Rua dos Andradas em Santa Maria

Incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na região central do RS Jean Pimentel / Agência RBS

Estive em Santa Maria em 2007 ou 2008. Impressionou-me o clima, entusiasmou-me o transitar de gaúchos e prendas na Rua dos Andradas. Não notei a Boite Kiss, porque nunca me chamam atenção esses ambientes. Estive uma vez numa dessas boates acompanhando minha filha e seu namorado. Não fui capaz de permanecer no local mais do que vinte minutos. Fazer o quê? Sou desses caretas que não vê graça no transe impassível dos pais que aguardam pelo retorno seguro de seus filhos após longas horas madrugada afora.

A juventude é sempre atraída, como mariposa que é, pelas luzes e ruídos da noite. Os pais, que uma vez já foram jovens, evitam o desgaste improdutivo de tentar restringir a diversão dos filhos. Não foram quase 250 jovens que não retornaram para seus lares neste domingo pela manhã. Não foram apenas as mães que ficaram sem um último beijo de seus filhos e filhas. Desta vez, estes jovens não acordarão na hora do almoço com o corpo alquebrado pela euforia transitória. São quase 250 atestados de que a ganância no mercado de eventos, a vista grossa na vigilância e o amadorismo na área pode e custa caro demais para as famílias brasileiras.

Como pai preocupado que sou, compartilho da dor desses pais gaúchos como se minha fosse. São futuros interrompidos, sonhos obstruídos e energia transbordante desperdiçada. Aquela vivacidade juvenil que inspira não retornará para aliviar suas ansiedades e seus medos. Meus mais profundos e sinceros sentimentos a todas as famílias afetadas pela tragédia de Santa Maria. Para sempre marcará nossa memória como uma bandeira de fumaça e alerta.