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Fernando Holiday é um ser humano antes de tudo

Fernando Holiday - Blog do Asno
Acompanho os videos desse menino há algum tempo. Já vi seus discursos antes e senti orgulho por suas convicções. Acontece que esse menino foi agredido durante seu discurso na Comissão Sobre Discriminação Racial nesta terça-feira, 22/03/16. Não foi agredido por ser negro, homossexual e pobre, mas por declarar suas convicções divergentes. É o que mais tem ocorrido neste país nos últimos anos, desde que o petismo alçou-se ao poder. Tem razão, Holiday, todas as ações afirmativas tomadas por grupos e parlamentares contra a discriminação foram na direção da segregação. Levamos décadas à custa de muita dor e sangue de gente valiosa que lutou para quebrar as fronteiras da cor, da sexualidade e também da opinião, para que agora grupos mal educados queiram desconstruir tudo isso em nome de uma tal reparação. Já escrevi o que acho dessa reparação... É injusta para com aqueles que realmente a mereciam! Gays foram perseguidos, caçados, mortos, castrados e agora, alguns, querem revide. Negros (sim, negros, deveriam ser orgulhosos também desse vocábulo!) foram ultrajados, escravizados, humilhados e discriminados e mulheres sofreram toda espécie de injustiça através dos séculos (sofreram bem mais do que os anteriores, se querem saber...). Há, sim, discriminação no Brasil e deve ser combatida. Eu mesmo já a experimentei por ocasião de minha condição social e hoje a experimento por ocasião de minhas opiniões.

Que nação nos tornamos ultimamente? Tantas conquistas e um enorme retrocesso! O Fato de Fernando ter rasgado o Hino à Negritude durante seu discurso não deve ser interpretado como desrespeito. É a manifestação dele como demonstração de que discorda de algo e é seu direito como cidadão, brasileiro e, sobretudo, como ser humano. Particularmente, não me incomoda a existência do hino e até o acho bonito. Uma bela composição do primeiro vereador negro de São Paulo, Eduardo de Oliveira, que veio a se tornar oficial somente em 2014, mais de 70 anos depois de sua criação. Houveram momentos onde a militância das ditas minorias eram necessárias e deveriam ser apoiadas incondicionalmente, mas hoje temos um cenário onde essa afirmação deveria ser mais inclusiva e menos provocativa. O tema do racismo já ocupou minha reflexão por mais de uma vez. Tenho particular interesse, não só por minha genealogia. A literatura, a música e as artes, em geral, ganharam em riqueza e beleza com a participação dos negros. Não pago um pau só por delicadeza! Sou amante do Rock'n Roll desde a infância e, como qualquer um que goste do estilo, sei que foi influenciado diretamente pelos negros. Porém, não é disso que trato nesse registro. Antes, quero resgatar um fragmento, muito importante e ignorado muitas vezes, de nossa história universal.

Amanhã, 24 de março, todos os seres humanos (não seres identificáveis unicamente pela cor), é uma data para refletir sobre muitos aspectos por que ela marca o início de uma vitória da humanidade. Da humanidade, senhores! Não de uma raça! Em 1965 ocorreram três manifestações do movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, sendo a primeira, no dia 7 de março, conhecida como “Domingo Sangrento” (“Bloody Sunday”, em inglês). Essa luta marca uma das maiores vitórias do movimento negro da década de 1960 naquele país. O resultado disso foram outras conquistas que hoje são muito visíveis bastando que se ligue uma televisão e se assista a quaisquer programas ou seriados americanos. Em pouco mais de 40 anos, os negros mudaram o comportamento e a cultura de toda uma nação. Acontece que no dia 24 o magnífico Martin Luther King, esse sim, um líder verdadeiro, proferiu seu discurso mais marcante em frente ao Capitólio do estado do Alabama, coroando a marcha, cuja rota foi imortalizada como a Trilha de Selma a Montgomery do Direito ao Voto.

Por que a menção apenas do magnífico King já que haviam outros líderes negros engajados antes de seu aparecimento? Por que ele venceu o racismo, a discriminação, a violência e a intolerância daqueles que resistiram a marcha guiando seus seguidores através da palavra e da postura pacífica acima de tudo. Enquanto Malcolm X e outros afirmavam que os negros deveriam revidar, King os pacificava e demonstrava que o único caminho para a vitória era expor a arrogância dos contrários até não ser mais possível a continuidade naquele estado de ignorância e intolerância. Outros líderes muito mais agressivos do movimento negro, hoje remanescentes, acabaram por entender que o modelo adotado por King foi o verdadeiro vitorioso. Tanto é que atualmente aqueles, outrora nervosinhos, estão inseridos como professores universitários e funcionários públicos no sistema contra o qual lutaram naquela época. Os EUA evoluíram muito na questão racial, embora ainda existam manifestações isoladas. Mas, a vitória daqueles que marcharam com Luther King veio através da compreensão da inclusão e não da separação. Segregação era o que havia antes nos EUA e os negros lutaram para derrubá-la e serem inseridos, afinal, com todos os direitos humanos garantidos. Parece que no Brasil, como não temos um Luther King, queremos realizar a marcha contrária.

Aqui no Brasil, alguns preferem exaltar a política de outras lideranças americanas daquele período como o líder sindicalista Asa Philip Randolph e os líderes do "Panteras Negras", Huey Newton e Bobby Seale, atualmente ativista pacifista. Acontece que o radicalismo de alguns grupos negros só produziu mais resistência no pensamento racista. Nos EUA, foi a liderança moral e pacífica de King que trouxe o resultado mais sólido. Infelizmente, sua estrela fora apagada pela intolerância, mas seu símbolo vigoroso prevaleceu. No Brasil... Não aprendemos nada com ninguém! Sou favorável a qualquer tipo de manifestação dentro da lei e lutaria para garantir esse direito até para aqueles dos quais discordo. Contudo... Alguma coisa está fora da orem, né Caetano! Um negro rasga um texto do qual discorda e é chamado de racista e fascista entre outros adjetivos pejorativos. Estudantes da PUC provocam e jogam fumaça de maconha contra policiais e são celebrados como coitadinhos... Invocar certos valores nesses tempos difíceis é perda de tempo já que eu estaria incorrendo no que os favoráveis a esse governo chamam de fascismo.

A esquerda no Brasil já foi detentora do discurso contra aqueles que violentamente cassavam o direito a livre opinião e expressão. Hoje, em coro, atacam quem não opina segundo seus princípios. Hipocrisia da mais descarada e mediocridade de pensamento! Continuo apoiando Fernando Holiday com admiração e endosso. Esse, sim, eu gostaria de ver no Parlamento nos representando e não um Vicentinho, um Jean Willys, uma Jandira Feghali, um Lindberg farias ou um Ivan Valente. Até concordo que a presença de deputados da esquerda seja muito agregadora para o regime democrático. Porém, líderes de esquerda de verdade estão em falta no mercado. Temos apenas charlatães no Congresso nacional. Garotos como Holiday devem ser incentivados a tornarem-se representantes, de fato, da população. Continuo confiando no regime democrático e defendendo-o daqueles que amam o autoritarismo. Não confio é no sistema eleitoral... Esse deveria ser o foco!

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