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O argumento do "Nós e Eles" - Parte III

Lula e Fernando Henrique Juntos - Um Asno
A maioria da gurizada que envia desaforos ao meu e-mail não faz ideia do que escrevem. Nem imaginam o que é inflação e o que ela faz com nosso dinheiro. Sabem menos ainda o que foi o saudoso movimento "Diretas já!" Ignoram também que naquele momento os "Nós e Eles" entoavam juntos o mesmo mantra da democracia. Escrevi dois artigos anteriores (aqui e aqui) falando sobre o perigo do separatismo intelectual (melhor dizer abismo) que tem movido muitos grupos atualmente. Houve um tempo que o conceito de "Direita" e "Esquerda" era muito mais tangível, mas não menos nocivo do que hoje. Pensadores de todas as estirpes sempre se enfrentaram nesse palco, mas sempre existia divergência e concordância nos argumentos que se referiam aos direitos mais valiosos do indivíduo: a liberdade de expressão, por exemplo! 

A política, a liderança, a organização do estado e até as religiões são elementos necessários e o dever do indivíduo é vigiar o que fazem com a licença que lhes outorgamos para nos conduzir. Criticar quando não satisfazem é um direito amplamente assistido pelos pilares da democracia. Quando acordei para a política, tão logo recuperamos o direito ao voto, vi nascer outro inimigo. De novo a separação entre os de "esquerda" e os de "direita". Os que defendiam determinados valores e os que gritavam por mudanças sociais. Optei pelo segundo, lógico! Quem não iria querer um país mais justo para os que tinham menos recursos? Eu sou um dos que tem poucos recursos!!

Não demorou e logo percebi a conveniência por trás do discurso. Naquela época os valentes guerreiros da liberdade buscavam uma imprensa crítica e livre. Atualmente, preferem regular essa imprensa conforme os limites de sua visão superior e ultra desenvolvida contra aqueles que se expressam contrários, sendo assim, considerados antipatriotas e de pensamento ultrapassado. Não por acaso, não foi diferente com as religiões que conheci!

Na década de 80 me posicionei favorável aos que defendiam a diversidade de pensamento sem perceber que ajudava certos pensadores nada comprometidos com essa visão de mundo. Lembro como foram bravos ao exigir, por exemplo, uma “anistia ampla, geral e irrestrita” e hoje observo os mesmos exigindo com mais fervor a revisão da mesma. É que naquele tempo também era essencial enterrar os crimes que cometeram em sua luta pela liberdade. Hoje já é possível punir os "outros", os "eles", sem maiores problemas.

O que pesa mais é concluir como essa visão de um mundo binário com ideologias atrasadas separa pessoas de bem, professores dedicados, pais de bem, jovens inteligentes e os jogam uns contra os outros empacando o desenvolvimento do ser humano. Voltam a se formar sombras de grupos totalitários, de pensamentos ultranacionalistas e de simpatias por ações pretensiosamente nazistas. O discurso é bonito, as mentiras entoadas e repetidas até a exaustão são fascinantes, mas não encobrem que não estamos avançando coisa nenhuma. Estamos desgovernados e em franco retrocesso. O maior retrocesso de todos é o do pensamento linear e bitolado contra os que não concordam com os rumos atuais e o pensamento de massa, sonegando o amplo direito que possuem.

Não estamos mais no período do obscurantismo e não podemos permitir que esse funesto momento de nossa história retorne. Pensamos diferente e isso é a razão de o mundo continuar existindo e girando sob as regras da evolução. Fôssemos todos uniformes em nossa maneira de pensar e agir e ainda teríamos iluminação com lamparinas a querosene, navegação em galeras e escrita em pergaminhos. O contraditório gera movimento, o questionamento é seu combustível. Os paradigmas, as leis e os dogmas, embora necessários por um tempo, devem sempre ser superados. Religiões nunca deveriam ser motivo de separação entre as pessoas, política, tampouco. Somos seres que se organizam em sociedade e é necessário que seja assim. Nenhum paradigma deve ser aceito sem discussão exaustiva e sem que o contraditório seja extinto. Mas, a forma de extinguir a contradição não é uniformizando o modo de pensar. É com argumentação sólida amparada em lógica, fatos e dados que construímos novos patamares para nossa sociedade, não com misticismos, interpretações ou defesas vagas de proposições.

Todos nos chocamos ao assistir as cenas de violência protagonizadas por torcedores insatisfeitos com seu time, ou simplesmente alimentando ódio contra os torcedores do time adversário. Que coisa mais curiosa! Que estado patológico assume o comportamento de um ser que em um determinado momento é um indivíduo normal e útil e noutro é um animal perigoso e ensandecido? O que faz com que um religioso resoluto e de olhar meigo, com palavras doces e entusiasmadas passe a ranger os dentes quando encontra alguém que discorda de sua fé? O que leva um jovem determinado e decidido a melhorar o mundo a sua volta a se revoltar e agredir violentamente quem se opõe a sua visão política? Por que falamos da boca pra fora que lutamos por um mundo acolhedor e confortável para todos se não aceitamos que todos devem participar? O que é que nos confunde e nos lança uns contra os outros? Porque é tão difícil admitir que nenhum de "nós" ou "eles" temos razão?

Um debate sadio só poderia ocorrer se cada um de nós assumisse que poderíamos estar equivocados e que o argumento do próximo poderia acrescentar algo a nossa visão. Uma ova que isso acontece! O que se vê é que os argumentos usados para contradizer, quando não suficientes e satisfatórios, servem apenas para validar os do adversário. É o caso daqueles que recorrem a justificativa de que a Bíblia é um livro com "muitas traduções e interpretações diferentes" para argumentar contra alguém que cita uma dessas traduções ou interpretações! É relativo demais, sô! Algo que, rigorosamente, determina a vida de bilhões de pessoas não pode ter diversas "traduções ou interpretações"! No mínimo, o pensamento conciliador e pacificador deve partir de cada um, antes mesmo de uma tradução ou interpretação. Ou brigaremos eternamente sem nunca termos razão, nem de um lado, ou de outro.

Do meu ponto de vista, não enxergo lados, não reduzo o mundo a visão binária de bem e mal, certo e errado, bom e mau, esquerda e direita, e assim por diante. Vejo pais, profissionais, alunos e professores, empresários e consumidores, todos mantendo o equilíbrio e o movimento necessário a evolução do ser humano. Tudo o mais é relativo. O livro ao qual recorro para me entender com o Criador é sua criação. Tudo o que preciso saber sobre o Arquiteto responsável pela existência do universo está no próprio universo, não em traduções ou interpretações. Minha visão espiritual ou religiosa está intimamente conectada a minha visão política. Por isso não as separo! As palavras e os textos confundem e, a exemplo disso, até as minhas são pouco ou nada analisadas. É mais fácil, simplesmente, criticar e agredir do que questionar e contra argumentar.

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