Vi há pouco na TV a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, com aquela sua boca inumana, a anunciar a nacionalização — ou a renacionalização — da petroleira YPF, subsidiária da espanhola Repsol. O projeto foi enviado ao Congresso, onde será aprovado com folgada maioria. Mas o governo não esperou: enviou seus emissários à empresa e deu início aos expurgos da diretoria. A YPF foi privatizada em 1999 pelo então presidente, Carlos Menem, com o apoio de Néstor Kirchner, que era governador da província de Santa Cruz.
Digamos, só para efeitos de raciocínio, que a Argentina quisesse retomar o pleno controle do setor no país em razão de algum plano estratégico. É assim que se faz? Não é o primeiro rompante de chavismo desta senhora. Ela segue o modelo do bandoleiro de Caracas também na relação com a imprensa. Investe na desordem institucional, com um populismo agressivo e rombudo. Com uma economia enfrentando dificuldades óbvias, a presidente recorre à velha tática de arrumar inimigos externos para despertar a reação nacionalista do “povo ofendido”. Faz o mesmo com a pregação em favor da retomada das Malvinas. O país é refém do projeto político dos Kirchner — primeiro de Néstor e, agora, de sua mulher.
Essa tem sido a triste sina de alguns países latino-americanos. Se, no continente, felizmente, as ditaduras militares são coisa do passado, o mesmo não se pode dizer das esquerdas populistas — ou, para ser mais preciso, de populistas convertidos a um esquerdismo de ocasião, como é o caso de Chávez, Rafael Correa, Evo Morales e da própria Cristina. Não são lideranças forjadas no marxismo revolucionário. Até outro dia, note-se, os marxistas não hesitariam em hostilizá-los. Hoje em dia, veem nesses governos a chance de se aboletar no Estado e de comandar algumas áreas da administração. Já está de bom tamanho para seus anseios.
Advertência
Enviaram-me alguns links de textos publicados no JEG. Que coisa! A canalha não cabe em si de contentamento. Na cabeça dessa turma, Cristina realiza na Argentina o que Dilma deveria realizar no Brasil, especialmente no que diz respeito à imprensa independente. Em certa medida, a associação é mesmo pertinente. O governo brasileiro não dispõe de leis — ou não dispõe ainda — que lhe permitam censurar a imprensa, por exemplo. Mas é inegável que o dinheiro público e das estatais financia, por exemplo, a rede suja na Internet. Num dos posts abaixo, vemos o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a defender que o poder investigue a imprensa livre, como se o corriqueiro, nas democracias, não fosse o contrário. A institucionalidade econômica é também muito mais desenvolvida no Brasil do que na Argentina. Se Dilma decidisse imitar sua colega argentina, o mercado financeiro lhe quebraria as pernas. Como não apontar, no entanto, em recentes medidas do Planalto certo sotaque, assim, entre o protecionista e o nacionalista?
O que quero dizer é o seguinte: o preço da liberdade é mesmo a eterna vigilância. Conceder com um pouco de autoritarismo pode significar, no longo prazo, conceder com autoritarismo inteiro. Cristina é a melhor evidência de que os defensores da democracia e de um regime de liberdades econômicas, pautado pela lei, não devem jamais condescender com arroubos de cesarismo.
A imprensa argentina, hoje sob o assédio de fascistóides incrustados no governo — e Cristina é a sua grande fonte de inspiração — foi uma aliada de primeira hora de Néstor Kirchner, fiel mesmo quando ele dava um jeitinho de driblar a lei em nome das necessidades urgentes do país. No primeiro mandato de Cristina, as características obviamente autoritárias do governo se intensificaram. Quando a imprensa se deu conta do que estava em curso, o estado argentino já alimentava com dinheiro público — como ocorre hoje no Brasil — verdadeiras hordas prontas a combater os mais elementares valores da democracia.
Ah, sim: e a “boca inumana” de Cristina? O que tem a ver com o conjunto da obra? Acreditem: tem, sim! Se vocês olharem direito, ela já não tem um rosto, mas uma máscara. Virou uma personagem da loucura sua e do grupo que lhe dá sustentação. Na Argentina de hoje, só uma coisa é certa: o modelo não vai dar certo. “Ah, Reinaldo, a crise sempre chega aos países, cedo ou tarde”. É verdade! Ocorre que as democracias existem justamente para que crises econômicas não se transformem em crises institucionais.
Malucos e malucas como Cristina Kirchner dão um jeito de começar por destruir justamente as instituições. É o que setores do PT e das esquerdas tentam fazer permanentemente no Brasil, ainda sem sucesso. Mas estão se esforçando bravamente para isso.
Por Reinaldo Azevedo
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