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As Armadilhas do Amor Jovem

Gravidez na Adolescência - Blog do Asno
Quase ninguém irá concordar que o sentimento ao qual perseguem sob o conceito de amor na realidade é resultado de uma armadilha química. Ou seja, o jogo de atração entre os sexos não é uma escolha e isso justifica o grande número de relacionamentos que iniciam sob forte bombardeio químico que carrega de estímulos toda a rotina dos apaixonados. Não há nada de errado nesse processo natural para aqueles que já atingiram a maturidade. Para este grupo o jogo da sedução já é mais compreendido, embora ainda existam muitos iludidos. Basta observar o grande número de relacionamentos com começo perfeito que culminam em lares desprovidos de estímulos entre os parceiros e o declínio do afeto entre eles. Um excelente termômetro para a qualidade das relações é o beijo. Aos que já se casaram é só recordar como beijavam antes e como se beijam depois de algum tempo compartilhando o mesmo cotidiano.

Carregamos uma programação genética baseada nos nossos instintos de reprodução e sobrevivência. Isso sofre pequenas mudanças de um indivíduo para o outro e é o que garante alguns sucessos nos relacionamentos que podem durar mais. Como a atração entre os sexos é um processo inconsciente e segue regras que nada dependem do raciocínio, seria conveniente que, ao menos, conhecêssemos como ela acontece. Sobretudo, nas camadas mais jovens da sociedade. A realidade nas favelas condena as jovens (meninas mesmo) a uma seleção macabra de seus parceiros. O sexo feminino, na maior parte das vezes, inconscientemente, sente atração por indivíduos que integram grupos sociais mais fortes devido a sua programação psicológica que a direciona na busca por uma proteção que favoreça seu próprio desenvolvimento. É uma programação que já deveria ter sido superada após tantas conquistas e o progresso do conhecimento de si mesmas.

Há quase dois meses recuperei parcialmente minha audição e por vezes sinto a falta de quando o mundo estava em silêncio absoluto. Carrego algumas tristes cicatrizes de quando experimentei a vida na favela antes de conhecer algum progresso na Capital. Estas marcas foram gravadas na minha memória quando via todos os dias as meninas afundando-se em relacionamentos desastrosos com o que a favela tinha de pior para oferecer. Ontem recordei esses momentos... Pouco antes das 21h gritos e choro vindos da rua chamaram minha atenção. Uma voz masculina alterada agredia furiosamente outra feminina que respondia com prantos e protestos acanhados delimitados pelo pavor. Um instinto imbecil me jogou para a rua para ter conhecimento se se tratava de uma agressão física. Era uma menina com pouco mais de 16 ou 17 anos em estado interessante, beirando a oito ou nove meses de gestação, negando-se a ser carregada no cano frio de uma bicicleta desprovida do assento traseiro.

O marmanjo, Mateus, explicitamente chapado, a maltratava e contra os que passavam pelo casal demonstrava claramente que já era veterano no movimento, mesmo aparentando ter entre 19 e 21 anos. Nada eu poderia fazer, mesmo que a cena consumisse tudo de humano que havia em mim. Não por covardia. Não sobraria osso inteiro no patife antes que tomasse conhecimento do que desabaria sobre ele. Mas, por que sei exatamente quem se jogaria sobre mim, mesmo comprometendo a integridade física da criança que carregava. Isso já aconteceu... Observei o casal por longos 10 minutos antes de recuar e refletir sobre a tragédia que essas crianças se condenam tão avidamente por responderem aos instintos que ainda desconhecem. Alguém gritou que havia chamado a polícia. Mateus, como a menina o chamava, retrucou que não seria a primeira vez e foi se adiantando.

A Lei "Maria da Lenha" (é assim que os encarcerados a chamam), evoluiu. Não deveria existir mais essa história do medo de represálias. A falta de informação faz o resto. Pelas palavras do próprio Mateus, a menina já o havia denunciado, mas ela mesma recuava e novamente aferrolhava os próprios grilhões. Precisa aprender a proteger-se de si mesma. Quando entrevistava homens encarcerados devido a agressões contra suas companheiras, a conclusão era quase unânime: tremiam só por pensarem na razão pela qual foram parar no cárcere. Fala-se muito em políticas sociais, mas falta inteligência aos tais especialistas para criar condições preventivas para isso. Ficam apenas no debate e nada concluem nunca. Penso na minha filha... Confio que os princípios que, como pai, transferi a ela irão lhe ajudar. Mas, reconheço que contra a natureza a razão leva de goleada. Temo cada vez mais por essa geração de jovens diluídos nos encantos de sua juventude desconhecendo as armadilhas que preparam para si mesmos.

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