Aluna Ana Júlia, de 16 anos, do Colégio Estadual Manuel Alencar
Ana Julia começa seu discurso citando a Lei 8.069/90 em seu artigo 16º para justificar as ocupações nas escolas. Eis o primeiro equívoco e aqui não dá pra saber se foi uma interpretação imatura de adolescentes ou se algum professor maroto a conduziu nessa interpretação. Realmente o inciso VI do referido artigo define como parte do direito a liberdade do adolescente "participar da vida política...", termine a frase e encontrará "...NA FORMA DA LEI". O mesmo ocorre com o inciso I que ela também poderia ter citado, onde se lê: "ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, RESSALVADAS AS RESTRIÇÕES LEGAIS;". Gozado que "criança" sempre sabe onde buscar os seus direitos, mas nada querem saber sobre os seus deveres. Onde estariam as restrições legais e que lei regulamenta a participação política? A Constituição Brasileira! Desafio qualquer professor a me mostrar que ocupação da maneira como tem sido feito está legitimado em nosso país. Essa tática é velha no mundo e, embora muitas vezes reivindiquem os resultados do movimento negro americano, foi a estratégia de Luther King que produziu mais resultados. O movimento dos alunos não é ilegítimo! O modelo que adotaram para se manifestar é!
Julia acerta ao demonstrar o quanto é difícil para os alunos realizarem o processo de análise de tudo que é transmitido a eles, sobretudo, através da mídia. Está coberta de razão, mas aí é que entram os professores inescrupulosos "bem intencionados" para esclarecer como deve ser o filtro dos adolescentes. Ela disse: "não é fácil para estudantes escolher pelo que lutar." Se estudantes fossem, o processo seria mais fácil. Assuma uma luta quando for capaz de compreender algo integralmente. A menina realmente acredita que não esteja sendo manipulada e doutrinada. Mas, quem lhe ensina a avaliar as questões e de que modo? Onde está o debate nas escolas ocupadas, Ana Julia? Onde está a argumentação do contraditório? Nem os pais são autorizados a entrarem nas ocupações! Se a bandeira dos alunos é a Educação precisam refletir sobre os resultados desta no nosso país nos últimos 20 anos. Se o movimento é apartidário precisam deixar de ouvir conselhos apenas de professores e organizações alinhadas a partidos radicais.
Na fala seguinte ela acerta em quase tudo, mas se equivoca ao justificar que as escolas foram ocupadas por que são "nossas". Não são! E ela entenderia melhor se fosse ela a excluída da sua escola por um movimento como a juventude nazista que, por ocasião, estivesse realizando ocupações e não o dela. Julia admite a necessidade da reforma no sistema educacional como um todo e aponta que a MP 746 possui falhas. Quais são essas falhas, eu perguntaria aos alunos. Quem lhes disse que são e porque são falhas? E se, for verdade, não seria mais coerente apresentar uma proposta corrigindo essas falhas? Onde está essa proposta? Ou os professores descolados também não sabem o que fazer com a educação? Quem disse que a reforma não está aberta ao debate? Porque seus professores maneros não estão debatendo a reforma, ao invés de estarem aí ministrando aulas bacanas de ativismo contra o estado? A quem interessa uma escola "com partido" já que o movimento é contra o projeto Escola sem Partido? Com certeza não interessaria a um movimento apartidário!!! Parecia a Luciana Genro falando: "Uma escola sem partido é uma escola sem senso crítico, uma escola racista, uma escola homofóbica...". De onde saiu isso menina! Com certeza, não foi de alguém apartidário.
A PEC 241 e a MP 746 não são inconstitucionais, menina. Alguém lhe disse isso! Além do mais, se fossem, há instrumentos legítimos de recurso ao Supremo Tribunal Federal para essas questões. Fazer ocupações não torna ilegal algo que não é só por que alguém discorda. Seus professores, no caso... Aponte a inconstitucionalidade na PEC. Aponte onde ela extermina com os direitos constitucionais. Se precisar de ajuda, chame o professor que lhe disse essa mentira. Na conclusão, Ana Julia cometeu o único erro na sua fala. Todo o resto são equívocos plantados, mas transferir a culpa pela morte do aluno Lucas Eduardo (aqui), aos parlamentares foi uma trapaça intelectual. Não são os parlamentares que estão com as mãos sujas de sangue (não nesse caso), são os professores que criaram as condições para o desastre perfeito. Os adolescentes possuem um pavio muito curto e os professores lhes deram a pólvora e o fósforo. O ECA responsabiliza a sociedade pela proteção dos adolescentes, mas não diz o que fazer em caso como o das ocupações. Aguardem coisas muito pior.
Ana afirmou que aprendeu muito mais sobre política no período das ocupações do que em todo o tempo de aula padrão. Nisso eu não posso discordar da menina e considero um absurdo que não existam mais disciplinas que formem a cidadania dos alunos. O resultado só poderia ser esse: uma compreensão completamente distorcida do que é política, direitos e, principalmente, deveres! É muito bonito ver uma menina de 16 anos defender com convicção seu ponto de vista. Mas eu também já tive essa idade e, como ela, já me impressionei com discursos de certos professores tolos que não vale a pena recordar. Se ela continuar com esse espírito e realmente ESTUDAR as coisas que vier a defender, teremos uma nova e promissora liderança no país. Torço para que ela "envelheça logo", como no conselho de Nelson Rodrigues.
Até concordo com o fato de ela ter dito que as mãos dos parlamentares estão sujas de sangue, mas não nos termos dela. São culpados, pois já deveriam ter intervido e desocupado as escolas e não deixarem essa situação chegar no ponto em que está.
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