O acordo com o PR mostra que, para o PSDB paulista, a honra agora vale menos que 1 minuto e meio no horário eleitoral
O jornalista Carlos Brickmann escreveu em sua coluna a nota que se segue. Volto no fim.
COMPANHEIRO É COMPANHEIRO
Daqui a pouco vai fazer um ano: o PSDB e o DEM pediram à Procuradoria-Geral da República que investigasse denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, controlado pelo PR. Há a citação de alguns nomes, entre eles o deputado federal Valdemar Costa Neto e o então ministro Alfredo Nascimento.Exatamente onze meses depois, o ex-ministro Alfredo Nascimento, em nome do PR, levou o apoio do partido a José Serra, candidato do PSDB e DEM (e vários outros partidos) à Prefeitura de São Paulo. O acordo foi articulado pelo comandante supremo e incontestável do PR em São Paulo, Valdemar Costa Neto.O caro leitor não entendeu nada? Ainda bem.Parafraseando Bismarck, o unificador da Alemanha, “quanto menos soubermos como são feitas a política e as salsichas, melhor dormiremos à noite”.
A coisa é um pouco pior. O PR é mais que uma quadrilha expulsa do
Ministério dos Transportes graças às denúncias da imprensa independente.
É o atual codinome do bando que, disfarçado de PL, ajudou a fundar o mensalão em meados de 2002, num encontro no apartamento do deputado
petista Paulo Rocha em Brasília. A sigla já controlada por Waldemar
Costa Neto foi representada pelo senador José Alencar. Em nome do PT,
compareceram Lula, José Dirceu e Delúbio Soares. O contratato de aluguel
estabeleceu que o PL receberia R$4,8 milhões para apoiar a dobradinha
Lula-Alencar no duelo com o tucano José Serra.
Agora candidato à prefeitura paulistana, Serra entendeu que, por 1
minuto e meio a mais no horário eleitoral gratuito, valeria a pena
considerar prescrito o acordo criminoso celebrado há dez anos ─ e fazer
de conta que o PR não foi varrido do primeiro escalão por assalto aos
cofres públicos. “Estou fazendo uma aliança com o partido, não com
pessoas”, desconversou. Como se fosse possível juntar-se ao PT e manter
distância de Lula. Como se fosse possível uma aliança com o Comando
Vermelho sem o aval de Fernandinho Beira-Mar.
Em troca de 1 minuto e meio na TV, o PSDB vai andar de mãos dadas com
o senador Alfredo Nascimento, despejado do Ministério dos Transportes
por corrupção, fingir de conta que o deputado Tiririca é intelectual
desde bebê e, sobretudo, amancebar-se com Valdemar Costa Neto, vulgo
Boy. Hoje deputado federal e secretário-geral do PR, Boy é um prontuário
ambulante de alta periculosidade.
Foi ele quem teve a ideia de chamar a modelo Lilian Ramos para fazer
companhia ao então presidente Itamar Franco no camarote na Sapucaí. A
bela jovem sem calcinha virou primeira-dama por uma noite. Um dos
fundadores do mensalão, Boy tornou-se em 2005 o primeiro parlamentar a
renunciar ao mandato para escapar da cassação inevitável. Recuperou o
gabinete na Câmara na eleição seguinte e nunca perdeu o acesso direto
aos cofres do Ministério dos Transportes.
Em julho de 2011, quando foi descoberta a mais recente safra de
escândalos, achou prudente afastar-se das cenas do crime espalhadas por
Brasília. Terá tempo e espaço de sobra para agir em São Paulo. Os 90
segundos na TV vão garantir-lhe o direito de infiltrar comparsas na
prefeitura da capital e e no governo estadual. Geraldo Alckmin também
prometeu apoio aos candidatos do PR na região de Mogi das Cruzes, berço e
bunker do notório vigarista.
“Se for proibido fazer coligações com partidos que têm pessoas que
estão no processo, o PT não poderia nem disputar a eleição, porque foi
ele quem coordenou e comandou a organização desse chamado mensalão”,
tentou sair da areia movediça José Serra. Afundou mais um centímetro ao
ressaltar as semelhanças entre o PSDB e o PT num momento que recomenda
aos berros que aprofunde as diferenças entre um partido e uma
organização fora-da-lei.
Afundou mais dois centímetros ao referir-se à maior roubalheira da
história republicano como “esse chamado mensalão”. Como o julgamento da
quadrilha chefiada por José Dirceu deverá começar em agosto, a dois
meses da eleição, é possível que Serra esteja ensaiando a retificação do
discurso de campanha. Costa estará no banco dos réus, e não convém
melindrar um parceiro de palanque. Por 90 segundos no horário
eleitoral, os tucanos paulistas se proibiram de transformar em trunfo
político o mais vistoso desfile de larápios já transmitido ao vivo pela
TV.
O acordo com o PR escancara, mais uma vez, o abismo que separa a
oposição oficial da oposição real, formada por brasileiros que respeitam
a lei, os valores morais e as normas éticas, não cedem à tentação de
justificar o injustificável, não fazem concessões ao farisaísmo, à
hipocrisia e à pouca vergonha, não aceitam a tese de que, em política,
só é feio perder a eleição. A oposição oficial teima em ignorar que a
oposição real não tem bandidos de estimação ─ e está cansada de escolher
o mal menor.
O país que presta insiste em ver as coisas como as coisas são. E o
que vê informa que, para o PSDB paulista, a honra agora vale menos que 1
minuto e meio na TV.
Por Augusto Nunes
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