Mais um post longo, pessoal, mas garanto que vale a pena!
Leio no blog do Zé Dirceu sua exortação quanto a criação da Comissão da Verdade. (vixi! quanto"ão"). A visão do Zé é tão distorcida quanto sua biografia de herói guerrilheiro (que ele tenta impor e que só a juventude sábia que o segue acredita)! Embora hajam nomes de real sentido entre os sete que compõem a tal comissão, é de se preocupar devido ao grande número de intelectuais, jornalistas e artistas que parecem confundir as funções desta comissão com outros objetivos.
Não querem investigar os crimes dos terroristas do período porque? Havia preparado um texto para convidar os leitores ao debate, mas daí, leio o seguinte texto de Reinaldo Azevedo:
Que
tal, meus caros, uma leitura sobre a Comissão da Verdade que vá um
pouquinho além dos clichês sem nunca fugir dos fatos? Como sempre,
aceito contestação. MAS TAMBÉM COM FATOS!
Dilma nomeou
a tal Comissão da Verdade. Haverá uma solenidade com a presença de
todos os ex-presidentes para dar posse ao grupo etc. e tal. A
presidente, nesse particular, não imita Lula. Procura dar a certas
decisões de governo a inflexão de política de estado e se mostrar menos
exclusivista e mais tolerante do que o antecessor. Certamente a sua
vaidade não rivaliza com a dele porque a de ninguém rivaliza.
Não se
esqueçam de que, quando Obama se elegeu nos EUA, o Apedeuta quase deu de
ombros e sugeriu que inovação mesmo teria sido aquele país eleger um
operário… Não sei se vocês entenderam esse particularíssimo ponto de
vista… Mas fiz digressão. Volto. Estão nomeados os sete: José Carlos
Dias (ex-ministro da Justiça no governo FHC), Gilson Dipp (ministro do
STJ e do TSE), Rosa Maria Cardoso da Cunha (amiga e ex-advogada de
Dilma), Cláudio Fonteles (ex-procurador-geral da República no governo
Lula), Maria Rita Kehl (psicanalista), José Paulo Cavalcanti Filho
(advogado e escritor), Paulo Sérgio Pinheiro (atual presidente da
Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU para a
Síria).
Huuummm… Poderia ser muito pior, embora tenha algumas restrições, de que falo já. O problema não está no “quem”, mas no “quê”.
Qualquer
historiador, não importa a corrente que abrace ou a ideologia, se tiver
um mínimo de seriedade e não for mero esbirro de partido ou grupo,
repudia o próprio fundamento dessa comissão: COM A DEVIDA VÊNIA, SÓ DITADURAS ESTABELECEM VERDADES OFICIAIS DE ESTADO EM MATÉRIA DE HISTÓRIA!
Como o Brasil não é uma ditadura, trata-se de um despropósito
conceitual somado a outro despropósito aplicado.
Vocês já leram, por acaso, a íntegra da lei que criou a Comissão Nacional da Verdade? Quando quiserem, o texto está aqui.
Vocês verão por que é importante fazê-lo caso queiram formar um juízo
consequente da realidade. Não se esqueçam. Uma das causas daquela crise
que alcançou centenas de militares da reserva foram declarações feitas
pela ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), segundo quem a
Comissão da Verdade poderia resultar em processos criminais. Não pode!
No dia 2 de março, podia-se ler no jornal O Globo o que segue em vermelho:
O secretário nacional de Justiça, Paulo
Abrão, que também é presidente da Comissão de Anistia, considera que a
Comissão da Verdade terá, como primeira missão, justamente a localização
de desaparecidos e a identificação dos responsáveis. Depois, vai
investigar as demais violações, como mortes e torturas. Numa outra
etapa, vai identificar as estruturas da repressão, a cadeia de comando e
a colaboração do setor privado com a ditadura.
“Não cabe investigar as ações da resistência. Estavam no direito
legítimo de lutar contra a ordem ilegítima e a opressão. A Comissão da
Verdade serve para investigar os crimes de Estado. Aqueles cometidos
pelo ente que deveria proteger os cidadãos e não persegui-los”, disse
Abrão.
Voltei
Errado! Não é o que está no texto
que cria a Comissão, e este é o problema das pessoas que estão lidando
com esse assunto: aprovar uma coisa e tentar fazer outra. À diferença de
certo jornalismo, não escondo documentos; mostro-os. O que diz a lei?
“Art. 1o
É criada, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a
Comissão Nacional da Verdade, com a finalidade de examinar e esclarecer
as graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no
art. 8o do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o
direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação
nacional.”
Muito bem!
Ao remeter para o Artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, a lei estabelece que serão investigados casos de 1946 a 1988.
Abrão deixa claro que isso é conversa mole. A comissão vai mesmo é se
interessar pelo aconteceu a partir de 1964. Vejamos mais.
No Inciso III do Artigo 3º, consta um dos objetivos da comissão, a saber:
“III - identificar e tornar públicos as
estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à
prática de violações de direitos humanos mencionadas no caput do art. 1o e suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade;”
Atenção! A
versão de que os crimes cometidos pela esquerda não podem ser
investigados é mentirosa! A íntegra da lei está disponível. Podem e
devem ser investigadas as transgressões aos direitos humanos cometidas
nos “diversos aparelhos estatais e na sociedade“. Mas isso também será ignorado.
Notem como Paulo Abrão não precisa nem mesmo de uma comissão para decretar uma verdade falsa como nota de R$ 13!
“Não cabe investigar as ações da
resistência. Estavam no direito legítimo de lutar contra a ordem
ilegítima e a opressão. A Comissão da Verdade serve para investigar os
crimes de Estado. Aqueles cometidos pelo ente que deveria proteger os
cidadãos e não persegui-los”.
Há aí
mentiras várias e de várias naturezas. A lei, como visto, não limita a
apuração aos crimes do estado. As ações terroristas que mataram quase
120 pessoas não eram “meras ações de resistência” nem objetivavam apenas
“combater a ordem ilegítima”. Ora, com que isenção se vai estabelecer a
“verdade” se o próprio texto da lei é distorcido com uma mentira
escandalosa?
Volto à matéria do Globo. Lá também se lê:
Sobre as declarações do general Luiz
Eduardo Rocha Paiva, de que deveriam ser julgados supostos crimes
cometidos pela esquerda - onde cita a presidente Dilma - Gilney Viana
afirmou que o objetivo da Comissão da Verdade não é esse:
“A comissão terá a finalidade de apurar os crimes cometidos
pelos agentes do Estado. Os outros (dos grupos de esquerda) já foram
apurados, objetos de inquérito e de processos judiciais. As pessoas
cumpriram pena.”
Gilney é
coordenador-geral do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria
de Direitos Humanos. Rocha Paiva, como sabem, fez tais declarações numa
entrevista concedida à jornalista Miriam Leitão, excelente e
isenta quando trata de economia.
Só para
esclarecer: “julgado” não será ninguém, de lado nenhum. O general
defendeu que os casos envolvendo a esquerda também fossem apurados.
Não! Não é verdade que todas as pessoas envolvidas com os atos
terroristas foram punidas. De todo modo, essa é uma falsa questão, que
trai uma intenção: LEVAR AO BANCO DOS RÉUS as “pessoas do lado de lá”, e
não apenas restabelecer “a verdade”.
Lei da Anistia
Então vejam:
1- Não é verdade que a lei que criou a Comissão da
Verdade limite a apuração aos crimes cometidos a partir de 1964, mas
assim será feito — contra o texto;
2- não é verdade que a lei que criou a Comissão da
Verdade limite a apuração a crimes cometidos pelo estado, mas assim será
feito - contra o texto;
3- não é verdade que a lei que criou a Comissão da
Verdade abra brechas para a responsabilização criminal de quem quer que
seja, mas é esse o espírito da coisa - contra o texto.
Sobre esse terceiro item, está lá na lei:
“Art. 6o Observadas as disposições da Lei no
6.683, de 28 de agosto de 1979, a Comissão Nacional da Verdade poderá
atuar de forma articulada e integrada com os demais órgãos públicos,
especialmente com o Arquivo Nacional, a Comissão de Anistia, criada pela
Lei no 10.559, de 13 de novembro de 2002, e a Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos, criada pela Lei no 9.140, de 4 de dezembro de 1995.”
A Lei nº 6.683 é justamente a Lei da Anistia, cuja plena validade foi declarada pelo Supremo Tribunal Federal.
Eu e muita
gente lutamos contra a ditadura para viver num estado democrático e de
direito. Os delírios totalitários todos foram derrotados pela
democracia. Autoridades do estado, como Maria do Rosário, Paulo Abrão e
Gilney Viana não têm o direito, em nome de suas escolhas ideológicas,
passadas ou presentes, de aplicar a lei conforme lhes der na telha.
Os nomes
Tenho restrições a duas integrantes da comissão. Sempre que
temas dessa natureza vêm à baila, Dima dá um jeito de confundir a
própria história com a história do país, o que não é um bom
procedimento. Já fez homenagens a companheiros de luta em solenidades
oficiais, ligando-os à construção da democracia, afirmação que nada tem a
ver com uma Comissão da Verdade. Eleita e governando segundo o estado
democrático e direito, não cumpre à presidente mistificar o próprio
passado. Ao nomear aquela que foi a sua advogada para a comissão, é como
se fizesse um desagravo a si mesma.
Não entendo o
que faz no grupo Maria Rita Kehl, uma psicanalista que, com frequência,
põe a razão de lado em nome da militância, nesse grupo. Em recente intervenção no Programa Roda Viva,
ela demonstrou um juízo bastante perturbado também sobre o presente.
Imagino o que possa fazer com o passado. Afirmou, por exemplo,
referindo-se justamente à Comissão da Verdade: “O Brasil é o único país da América Latina que não apurou os crimes da ditadura militar (…)”
Fica parecendo que “ditadura militar” é uma instância única a ter
governado o continente, o que é uma besteira. Um dia, dona Maria Rita,
será preciso apurar os crimes dos Irmãos Castro, de Hugo Chávez, de
Rafal Corrêa, de Evo Morales… A senhora não acha?
Mas entendo…
Maria Rita certamente se refere a um país como a Argentina, por
exemplo, em que a ditadura não cessa de gerar fatos políticos novos, que
servem à pantomima de Cristina Kirchner e seus neofascistas… Países que
se negam a transformar história em… história ficam presos ao passado e a
candidatos a tiranos do presente. A África do Sul saiu do Apartheid sem
criar uma comissão para definir a história oficial. Os EUA entraram na
era dos direitos civis sem criar um tribunal da história. Já a
Argentina, esta sim, criou um instituto só para definir uma versão
oficial para os fatos. A Argentina… Aquele país que está indo para o
buraco.
De todo
modo, reitero, a lista dos sete nomes é menos ruim do que poderia ser.
Há pessoas ali que jamais deram demonstrações de que não estejam
comprometidas com a democracia e com o estado de direito. Só quero saber
se terão a coragem de apurar os crimes cometidos pelos “aparelhos
estatais” e pela “sociedade” — isto é, também os crimes cometidos pela
esquerda.
É óbvio que
não terão. Afinal, uma “Comissão da Verdade” encontra a sua vocação
sendo um “Tribunal da História”. E terá, fatalmente, de mentir. E a
maior mentira será trasformar os militantes daqueles grupos de esquerda
em heróis da democracia — democracia que sempre repudiaram na teoria e
na prática.
É incômodo dizer isso? É, sim! Ainda bem que a democracia, que eles nunca quiseram, mo permite!
Li no seu perfil que você quer, aqui no blog, defender ideias políticas coerentes. Pois bem, acabo de ler a matéria acima e encontrei, no mínimo, uma incoerência bem marcante: a falta de informação do expositor. Ele diz: "A África do Sul saiu do Apartheid sem criar uma comissão para definir a história oficial."
ResponderExcluirComo não? Foi comentadíssima a atuação da Comissão da Verdade e Reconciliação acontecida na África do Sul, sob o comando do bispo Desmond Tutu.
Esse senhor, Reinaldo, parece-me que não possui estofo suficiente para comentar sobre política, pois não se incomoda em faltar com a verdade.
Outro lapso dele: "Eu e muita gente lutamos contra a ditadura". Pela idade dele, é óbvio que ele não tinha idade à época da ditadura para lutar contra ela.
Terceiro: "“O Brasil é o único país da América Latina que não apurou os crimes da ditadura militar (…)” Fica parecendo que “ditadura militar” é uma instância única a ter governado o continente" Não, não fica parecendo. Só se ele não entendeu o que a sra. falou
Enfim, eu não sou petista e deploro o que muitos deles andam fazendo, mas eu vivi a ditadura e faço questão que exista uma Comissão da Verdade.
As novas gerações não fazem ideia a que muitos brasileiros foram submetidos. Portanto há de se tomar cuidado com autores de extrema direita e que, na sua ânsia por difamar o pessoal que hoje está no governo, ficam distorcendo e até inventando coisas.
Esse senhor não pode sair afirmando que as coisas se sucederão como ele aponta em seu texto tão arbitrário.
Pense nisso.
abraços
Fico muito grato por sua contribuição muito sensato Atena, mas há diferenças entre as Comissões da Verdade iniciadas em outros países e a que se quer instalar no Brasil. O que Reinaldo Azevedo e eu trabalhamos em nossas postagens não é contrário a Comissão prevista em lei, mas sua lateralidade. Porque vasculhar os porões apenas dos perseguidores? Houveram vítimas inocentes de ambos os lados: dos agentes da ditadura e dos extremisatas da esquerda. Reinaldo atuou sim entre os militantes da Libelu - Liberdade e Luta, tendo participado da militância esquerdista na clandestinidade quando jovem, embora, segundo ele próprio, não tenha sofrido as pressões físicas do regime. Eu mesmo era jovem demais para atuar durante o processo de abertura, mas fico indignado ao ver os jovens de hoje (que consciência nenhuma tem quanto ao regime) pichando calçadas. O fato de Reinaldo se posicionar na direita não o desqualifica como jornalista político. A citação sobre a África do Sul não se referia a não existência da Comissão da Verdade, mas sim, que ela não se prestou a reescrever a história isentando as partes. Na África A Comissão da Verdade e Reconciliação, formada para investigar os abusos da era do apartheid, havia recomendado ao governo pagar 3000 milhões de rands em compensação, pelos cinco anos seguintes (para todas as partes envolvidas). Fico muito feliz por sua contribuição e desejo que outros façam parte do debate. Agradeço a você mais uma vez.
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